Release
Democracia: suas crises e seus destinos serão os temas mais debatidos no 41ºEAA. Trabalho e reestruturação econômica e reforma do sitema político brasileiro também estão em pauta
Este ano os trabalhos sobre gêneros e sexualidades se destacam em número e diversidade; e os conflitos ambientais e por terras apontam para o recrudescimento da violência nos territórios
Democracia – palavra, princípio, sistema político –, um tema que se tornou presença contínua nos debates públicos e privados no último período. Nas universidades brasileiras têm sido questão essencial em pesquisas (novas e antigas) realizadas no âmbito das Ciências Sociais, e ocupará uma diversidade de espaços no 41º Encontro Anual da ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais). Como em anos anteriores, o evento acontece em Caxambu, Minas Gerais, entre os dias 23 e 27 de outubro.
“A democracia encontra-se sob questionamento, não ela enquanto valor e telos, mas sim enquanto realidade prática”, comenta Fabiano Guilherme Santos (IESP-UERJ), presidente da ANPOCS. Para ele, “nunca esteve tão presente o desafio de se insistir no desiderato da democracia no país” e, para isso, se faz necessária “a diversidade de ângulos pelos quais os cientistas sociais encontram-se desafiados a estudá-la e a refletir sobre ela”.
Pela terceira vez consecutiva o Encontro ANPOCS promoverá o Simpósio de Conjuntura, abordando conjuntura jurídico-institucional no dia 24/10; conjuntura política no dia 25/10; e conjuntura social, a ser realizada no dia 26/10. Os debates ocorrem sempre das 17h30 às 19h30 e vão reunir nomes como: Christian Lynch (Iesp-Uerj), Marcelo Neves (UnB), Maria Tereza Sadek (USP), Cláudio Gonçalves Couto (FGV-SP), Conrado Hübner Mendes (USP), Miriam Pillar Grossi (UFSC), Vera Telles (USP), Adalberto Moreira Cardoso (Iesp-Uerj), Antônio Carlos de Souza Lima (UFRJ). A coordenação das mesas fica por conta de Bruno Reis (UFMG) e Ricardo Mariano (USP).
A atual conjuntura pela qual passa o país também tem imposto desafios à prática científica. “Uma das questões que balizam reflexões que terão lugar no Encontro ANPOCS deste ano diz respeito aos cortes e contingenciamentos na verba para a ciência e a tecnologia no Brasil e aos dilemas e desafios impostos à produção do conhecimento científico”, destaca Emília Pietrafesa (Unicamp), secretária adjunta da ANPOCS.
Neste sentido, dentre as novidades deste ano estão as atividades (fóruns e colóquio) promovidas pelas associações científicas ABA (Associação Brasileira de Antropologia), SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia) e ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política). O objetivo é estreitar relações institucionais entre as associações representativas dos pesquisadores e, no caso da ANPOCS, dos programas de pós-graduação e centros de pesquisa em Ciências Sociais.
Dialogando com um cenário que enseja ascensão do conservadorismo, a antropóloga Lia Zanotta Machado (UnB) deve discutir em sua conferência “Por que os antropólogos incomodam?” (CF4), como categorias já consagradas nas Ciências Sociais em geral, e na Antropologia, em específico, como “diversidade cultural”, “gênero” e “direitos”estão sendo postas em xeque por grupos de interesse. Dentre os exemplos citados pela pesquisadora está a contraposição à metodologia antropológica de observação participante, contida em relatório recente da Funai/Incra, que trata a posição do antropólogo como “fraude” ou “conluio”. E ainda, a acusação dos estudos de gênero como “ideologia de gênero”.
Para além de promover um exame criterioso e bem informado da conjuntura do país, o Encontro ANPOCS tem se notabilizado historicamente por discutir resultados de pesquisa que prenunciam fenômenos emergentes e apontam oportunamente suas características e implicações para a vida política e social do país. “A reconfiguração do mundo do crime, a diversificação de modalidades não eleitorais de controles democráticos, o protagonismo do judiciário, entre muitos outros temas, foram amplamente debatidos em GTs e SPGs da ANPOCS antes de se tornarem ‘fatos’ amplamente conhecidos”, afirma Adrian Gurza Lavalle (USP), diretor de Publicações da ANPOCS. Assim, o “Encontro ANPOCS é um lugar privilegiado para avaliar as tendências do presente”, conclui.
O 41º Encontro Anual da ANPOCS terá sua abertura oficial no dia 23/10, às 20h30, na sala 4 do Anfiteatro Glória, Caxambu (MG). Após as falas dos diretores da ANPOCS, haverá uma discussão sobre a grave situação em que se encontra a pesquisa acadêmica no Brasil, com a redução do financiamento público, o contingenciamento de recursos do MEC (Ministério da Educação) e o desmonte do MCTIC (Ministério da Ciência e Tecnologia Inovações e Comunicações). O debate contará com contribuições de Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
Na sequência, haverá a cerimônia de entrega do Prêmio ANPOCS de Excelência Acadêmica. O Prêmio foi criado em 2013 para reconhecer e premiar pesquisadores da área por suas contribuições acadêmicas, produção intelectual e trabalho institucional em prol das Ciências Sociais. Este ano os premiados são: Bela Feldman-Bianco (Unicamp) (Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica Gilberto Velho em Antropologia), Maria Tereza Sadek (USP) (Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica Gildo Marçal Brandão em Ciência Política) e Elide Rugai Bastos (Unicamp) (Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica Antônio Flávio Pierucci em Sociologia).
Ao final da cerimônia haverá o Coquetel de Abertura e Lançamento de Livros e Revistas, às 22 horas. O baile de encerramento acontece quinta-feira, dia 26, às 22 horas.
O 41º ANPOCS conta com patrocínio da Capes, Fapesp, CNPq, Fapemig e IPEA, e apoios institucionais da FFLCH/USP, Prefeitura de Caxambu, IMS (Instituto Moreira Salles), SESC (Serviço Social do Comércio) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
:: DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO ::
Além de uma extensa programação relacionada à pesquisa acadêmica, o 41º ANPOCS promoverá ainda uma série de homenagens a pesquisadores que faleceram no último ano, entre os quais Antonio Candido. A Sessão Especial (SE2), que homenageará o sociólogo acontece no dia 24/10 às 21h00, no Anfiteatro Glória, e contará com exposições de Lilia Moritz Schwarcz (USP), Mariza Peirano (UnB), Antônio da Silveira Brasil Junior (UFRJ), Enio Passiani (UFRGS) e coordenação de André Pereira Botelho (UFRJ).
Outro destaque deste ano será a apresentação do repositório de preprints pelo Programa SciELO. A velocidade da veiculação de conhecimento é questão crucial da editoração científica no mundo e os repositórios de preprints, que são prática comum na editoração científica internacional em áreas como a física e a medicina, tornam a publicitação imediata. “Esta deve ser a inovação mais importante no campo da editoração científica para os próximos anos”, destaca Adrian Adrian Gurza Lavalle. Para examinar as implicações desta inovação, o diretor do Programa SciELO, Abel Packer, e os editores das três grandes áreas das Ciências Sociais realizam o Colóquio “Novas mudanças, experiências e estratégias no campo da editoração científica nas Ciências Sociais” (CQ12).
Em 2017, estão de volta os grupos de trabalho (GTs), que durante as últimas duas edições deram lugar aos seminários temáticos (STs). Serão 35 GTs no total. Já as pesquisas, os relatos e as produções acadêmicas seguem a dinâmica dos Simpósios de Pesquisas Pós-Graduadas (SPGs), que são realizados ao longo de todo o encontro, sendo, no total, 30 SPGs. O 41º ANPOCS conta ainda com seis conferências, das quais três serão realizadas por convidados estrangeiros (veja abaixo) e três por pesquisadores brasileiros, 44 mesas redondas, nove fóruns, 12 colóquios, minicurso e workshops.
Por fim, exposições fotográficas e de vídeos acontecem ao longo de todo o Encontro e, em função do sucesso no ano anterior, será realizada a II edição do prêmio de melhor ensaio fotográfico e de melhor filme, em parceria com o IMS (Instituto Moreira Salles).
CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS
Serão três conferências internacionais: a conferência “The ‘Fetish’ Revisited: Marx, Freud and the Gods Black People Make” (CF1) será ministrada por J. Lorand Matory, diretor de Artes Sagradas do Projeto do Atlântico Negro e professor de Antropologia Cultural da Duke University, que deve abordar uma nova perspectiva sobre a relação entre a Teoria Social europeia e o racismo sofrido pelos africanos e judeus assimilados. Já a conferência “Impeachment or Backsliding? Threats to Democracy in the Twenty-First Century” (CF3), a ser apresentada por Aníbal Pérez-Liñán (University Of Pittsburgh), pretende debater o papel do impeachment nas democracias atuais e como a concentração de poder pelo Executivo tem enfraquecido as democracias em países de renda média na América Latina.
Klaus Dörre (Friedrich-Schiller University) pretende analisar os impactos globais de médio e longo prazo do crash econômico de 2008. A partir da tese de uma globalização que se torna repulsiva, a conferência “The New Landnahme: From the End of Globalization to the Limits of the Capitalist Dynamic” deve discutir as consequências deste novo movimento no capitalismo, cujas implicações têm sido desigualdade crescente, risco financeiro, tensão ecológica, migração forçada e, possivelmente, uma revolta populista de direita, que vem minando as instituições democráticas. As conferências internacionais acontecem nos dias 24, 25 e 26, sempre das 11h00 às 12h30, na sala 4, Anfiteatro Glória.
ESTADO E DEMOCRACIA
A democracia política restabelecida no país nos anos 1980 atravessa hoje seu momento mais crítico. Enquanto o resultado eleitoral de 2014 permanece sub judice, as eleições de 2018 anunciam-se no horizonte, em meio a um quadro de comprometimento das principais siglas partidárias e de importantes lideranças políticas, atingidas pelas denúncias de corrupção e de financiamento ilícito de campanhas.
O protagonismo dos órgãos de Justiça parece ter alcançado seu ápice e as investigações e processos criminais envolvendo tais partidos e lideranças seguem seu ritmo próprio. E pouco se sabe sobre o impacto que tais processos podem acarretar sobre percepções e atitudes da sociedade em relação ao sistema político, mas é preocupante o cenário que se desenha para o futuro próximo e para o encontro com as urnas em 2018.
Tais questões serão discutidas na mesa redonda “Crise da Democracia e Perspectivas para 2018” (MR12), com Claudio Gonçalves Couto (FGV-SP), Magna Maria Inácio (UFMG), Nara Pavão (UFPE), Lucio Rennó (UnB), sob coordenação de Rogério Arantes (USP). Outras quatro mesas terão a democracia como tema principal. São elas: “A Democracia e os brasileiros: mudanças e permanências na cultura política nacional” (MR5); “Democratização da Democracia: reflexões sobre os impasses da democracia como forma de vida” (MR14), “‘Desdemocratizações’ do norte ao sul global: a onda das ‘pós-democracias’?” (MR17) e “República e democracia: a crise do Brasil contemporâneo” (MR37).
A democracia também estará presente como tema em colóquios: “Marxismo e Ciências Sociais. 100 anos da Revolução Russa” (CQ6) e “Práticas jurídicas, linguagem e institucionalidade democrática” (CQ8) e no fórum “Democracia, movimentos sociais e políticas públicas: inovações analíticas e agendas de pesquisa” (FR8).
Dois GTs e dois SPGs também apresentam estudos sobre o tema. O GT8 “Democracia e Desigualdades” irá fazer um debate sobre participação social e representações, abordando seus limites quando há reprodução de sistemas desiguais. Já o GT15 “Intelectuais, democracia e dilemas contemporâneos” deve jogar luz aos aspectos mais conceituais e históricos. Lutas anticapitalistas, democracia radical e sociabilidades emergentes são os temas do SPG3, enquanto Justiça e normatividades serão o foco do SPG9.
CRISE INSTITUCIONAL
O debate sobre a crise política e institucional pela qual passa o país também levanta questões e análises acerca dos governos petistas. Afinal, “Por que a coalizão proposta por Lula falhou?” é a pergunta que intitula a mesa redonda (MR32), composta por Luiz Carlos Bresser-Pereira (FGV-SP), Fernando Haddad (USP) e Renato Monseff Perissinotto (UFPR).
Como formulador da abordagem denominada “novo desenvolvimentismo”, Bresser-Pereira deve refletir sobre as falhas do modelo de coalizão e apontar, junto com os demais membros da mesa, as estratégias possíveis para o desenvolvimento brasileiro. O “Presidencialismo de coalização brasileiro” é também o tema principal das sessões do GT18.
REFORMA POLÍTICA
Assim como a crise da democracia, a reforma política é outro tema presente nos diferentes espaços de discussão e apresentação de trabalhos no 41º ANPOCS, sendo o tema principal da Aula 2 do Minicurso “Reforma Política no Brasil: controvérsias, alternativas e expectativas” (CS1). A aula será ministrada pela doutora em Ciência Política, Silvana Krause (UFRGS), que pretende dar um panorama histórico da reforma política e apresentar as questões centrais no atual debate sobre esta agenda.
A reforma política aparece também em grande parte dos trabalhos a serem apresentados no GT9 “Dinheiro, interesses e democracia: a influência dos recursos financeiros no Sistema Político”, ainda que subordinada ao debate específico do financiamento de campanhas eleitorais. Neste sentido, vale destacar alguns trabalhos como: “Financiamento privado de campanha eleitoral: o agronegócio bancando a queda do Código Florestal Brasileiro de 1965” e “Pentecostais, igrejas e financiamento de campanha nas Eleições Legislativas Brasileiras de 2014”, ambos da 1ª sessão do GT9 e “O problema do valor equitativo das liberdades políticas: apontamentos normativos sobre financiamento político, grupos de interesses e meios de comunicação”, da 2ª sessão. A consequência dos patrocínios eleitorais em mudanças legislativas de planos de saúde e a internacionalização de empresas com crédito do BNDES são temas explorados nos painéis apresentados durante do GT9.
RELIGIÃO E SOCIEDADE
A religião como fenômeno social ou em sua interface com a sociedade e a política atravessa alguns diferentes espaços. Está presente, por exemplo, no colóquio “Rumos contemporâneos da sociologia no Brasil” (CQ11), que abrigará o debate sobre “Ativismo político de atores religiosos, laicidade e secularização”; no Fórum “Sobre periferias: novos conflitos no espaço público” (FR4), com apresentação do trabalho “Religião e ação política na periferia”; e é o tema principal do GT29 “Religião, política e direitos na contemporaneidade” e do SPG28 “Religião, política e direitos humanos”. A ligação entre religião e política aparece em outros espaços como nos GTs 23, 24 e 30.
Mas não para por aí, a religião também é tema em três mesas redondas: “Pesquisar religião, pensar a sociedade: um panorama dos estudos em religião no Brasil” (MR28), que pretende discutir as mudanças no papel da religião no país e sua interface com diferentes campos da vida social, “Religião, direitos humanos e intolerâncias” (MR34), que deve articular moralidades, identidades e discursos religiosos para a reflexão acadêmica sobre o estatuto do religioso na atualidade, e “Religiões e deslocamentos globais” (MR35), que fará uma análise sobre os processos de transnacionalização das religiões.
REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA
Embora a Reforma Trabalhista aprovada este ano no Congresso Nacional não apareça como tema específico, inúmeros são os trabalhos que fazem referência aos processos de reestruturação econômica e suas consequências para o mundo do trabalho. Questões como flexibilização de leis e precarização do trabalho aparecem no GT33 “Trabalho, trabalhadores e ação coletiva”. Trabalho doméstico, exploração do trabalho infantil e condições análogas à escravidão também estão entre os problemas a serem discutidos nas pesquisas.
A reestruturação econômica é tema principal da conferência “O sentido do trabalho em contextos de reestruturação econômica” (CF2), a ser ministrada pelo sociólogo José Ricardo Ramalho (UFRJ). Sua exposição deve refletir sobre a crise financeira, que se abateu sobre os mercados desde 2008, e as propostas de ajuste e reestruturação do trabalho constituídas a partir de então. A flexibilização possibilitada pelas novas tecnologias e a diversidade das formas de trabalho contemporâneas também fazem parte da análise.
Com o título “As conexões do desenvolvimento do capitalismo no Brasil com outras formas socioprodutivas, vistas pelo prisma dos estudos do trabalho”, a aula do Minicurso ANPOCS deste ano também trará uma abordagem sobre o tema, reconstituindo a trajetória dos estudos sobre o trabalho no Brasil, tendo como marco inicial os estudos pioneiros da Sociologia do Trabalho, situados entre fins da década de 1950 e início da de 1960.
OPINIÃO PÚBLICA
Os últimos anos têm sido marcados pela discussão sobre a relevância do papel da opinião pública, especialmente, quando se trata do debate político no país. Jornais e meios de comunicação de massa têm sido analisados como fonte de discursos que em grande medida, tem dado centralidade a determinadas opiniões, em detrimento de outras. Este debate, que emerge com vitalidade em 2013 e ganha força com a polarização política de 2014 e 2015 deve ocupar novamente alguns espaços do 41º ANPOCS, e pode ajudar a compreender a relação entre opinião pública e voto, num cenário de eleições presidências à vista.
Neste sentido, a mesa redonda “Mídia e Democracia em tempos difíceis: cumplicidade ou antagonismo” (MR24) deve trazer excelentes contribuições ao debate. A mesa contará com as exposições de Fernando Azevedo (UFSCar), Fernando Lattman-Weltman (UERJ), Vera Chaia (PUC-SP) e Maria Helena Weber (UFRGS). Também recebem destaque as discussões propostas no GT5 “Comportamento, opinião pública e cultura política”, no GT17 “Mídia, Política e Eleições” e no SPG7 “Comunicação política e eleições no Brasil”.
CIBERPOLÍTICA E CIBERATIVISMO
Ainda na seara da comunicação, no entanto, com um enfoque maior no papel das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), o GT “Ciberpolítica, ciberativismo e cibercultura” (GT2) deve enfocar, além da formação da opinião pública, os impactos dessas tecnologias digitais sobre várias dimensões das sociedades contemporâneas. Os trabalhos a serem apresentados no GT vão mobilizar saberes em torno das sociabilidades e processos de criação simbólica de atores sociais, que se estabelecem no e pelo uso/apropriação das tecnologias informacionais, e suas interfaces com sistemas políticos, participação social online e identidades individuais e coletivas na rede.
Enquanto a 1ª sessão “Democracia, Participação e Internet”, deve jogar luz sobre os usos públicos da internet, destacando as formas de governança e participação social e suas relações com o Estado, a sessão 3º “Redes, Poder e Cultura Digital” buscará enfocar os embates no âmbito privado, ou seja, proteção de dados dos usuários, políticas de uso das plataformas e formas de uso e apropriação. A 2ª sessão, por sua vez, enfatizará as metodologias atuais para estudo e pesquisa sobre a internet.
SEGURANÇA PÚBLICA
O Fórum “Administração de conflitos em perspectiva comparada” (FR1) deve discutir o papel dos agentes de Estado (policiais), com trabalhos que abordam questões como qualidade de vida, formação e identidade profissional dos policiais; do Ministério Público, com discussões sobre denúncias, acordos de delações em processos inquisitórios, uso de provas e comportamento do STF. Por fim, os dilemas do sistema penitenciário brasileiro estarão presentes na 3ª sessão, com debates em torno da privatização das prisões, uso de monitoramento eletrônico e o trabalho das organizações criminosas dentro dos presídios.
Ainda sobre a atuação policial, o SPG15 “Formação, saberes e práticas: estudos sobre a atividade policial na contemporaneidade” abordará questões como policiamento comunitário, flagrantes do trabalho ostensivo da ROTA em São Paulo, a ação da PM nos protestos de 2013, entre outros. A segurança pública também é tema da mesa redonda “Universidade, inclusão e segurança pública: tecnologias sociais inovadoras em um contexto de crise” (MR41), que pretende jogar luz ao papel da produção de conhecimento científico nas instituições que atuam com segurança.
A 1ª sessão “Violência, criminalidade e suas representações” deve abordar questões como as novas leituras sobre o Relatório da CPI do Narcotráfico, o papel dos programas policiais dentro do telejornalismo e outras formas de disseminação do medo. A 2ª sessão “Polícia e Justiça Criminal” vai estabelecer reflexões sobre a violência policial e os mecanismos de controle, a produção da verdade policial e sua formatação e verdade jurídica, além do envolvimento de policiais com o crime. Por fim, a 3º sessão “Punição e prisão” vai abordar o sistema de contenção e controle e pensamento punitivista presente na sociedade brasileira.
A este respeito, vale destacar a atividade promovida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Trata-se da mesa redonda “Pensamento autoritário e a gestão do medo na segurança pública”, que contará com exposição de importantes pesquisadores da temática como Alba Zaluar (UERJ), Paulo Jannuzzi (ENCE), João Trajano de Lima Sento Sé (UERJ), sob a coordenação de Renato Sérgio de Lima. A mesa apresentará os resultados da pesquisa recente promovida pelo FBSP e realizada pelo DataFolha, que revelou um índice elevado, na população brasileira, de adesão a formulações típicas do pensamento autoritário.
CORRUPÇÃO E CONTROLE
Os desdobramentos de inúmeras investigações de esquemas de corrupção no Brasil, que ganharam o enfoque da mídia nos últimos quatro anos, serão tratados em diferentes espaços, como nas mesas redondas “Crise da democracia e perspectivas para 2018” (MR12) e “República e democracia: a crise do Brasil contemporâneo” (MR37).
Ainda neste tema, destacam-se os trabalhos “Corrupção política e avaliação de governo: o caso da Lava Jato” a ser apresentado no GT17 “Mídias, política e eleições”, e “Corrupção e seletividade penal em julgamento: ações no TRF4”, a ser apresentado no GT21 “Os juristas na sociedade: conflitos políticos e sentidos do direito”.
Este tema ganha centralidade no grupo de trabalho “Controles democráticos? Instituições e participação na democracia contemporânea” (GT7). Nele serão abordadas as tensões que perpassam os mecanismos de controle instituídos para promover a participação democrática, mas que muitas vezes se mostram não tão democráticos. A atuação e, algumas vezes, a extrapolação da atuação de alguns órgãos no controle da corrupção e suas interações com os três poderes também serão alvo de reflexão. O GT7 está dividido em três sessões.
GÊNEROS E SEXUALIDADES
A efervescência do debate sobre gêneros e sexualidades que hoje toma conta até da programação de TV no Brasil está também presente nos debates acadêmicos, sobretudo, nos estudos da Antropologia e da Sociologia. O resultado disto é que em 2017 o 41ª ANPOCS deve reunir mais de 70 trabalhos referenciados nesta temática. Um dos destaques da programação é a mesa redonda “Ofensiva conservadora e gênero: os direitos das mulheres e dos segmentos LGBT em disputa” (MR26), que contará com exposições de Flávia Biroli (UnB), Maria José Rosado-Nunes (PUC-SP) e Rita Segato (UnB).
A Conferência “Os ativismos das mulheres e as políticas de igualdade de gênero: dos anos 1960 aos dias de hoje” (CF6), a ser ministrada por Lúcia Avelar (Unicamp), é outro destaque. A partir da análise das eleições de três mulheres para a presidência das repúblicas da Argentina, Brasil e Chile na última década, a cientista política pretende lançar a seguinte reflexão: afinal, tais eleições seriam coincidência ou estão vinculadas à emergência do protagonismo dos movimentos de mulheres nestes países?
Direitos das mulheres e de LGBTs em suas mais diferentes interfaces, com trabalho, meios de vida, política, sexualidade e família serão abordados em GTs e SPGs cujos trabalhos a serem apresentados são exclusivos sobre tais temáticas. Entre eles, estão: “Gênero, trabalho e família” (GT3); “Sexualidade e gênero: corpos, sujeitos e políticas” (GT30); “Casa, comida e gênero: olhares etnográficos” (SPG5); “Gênero e Política” (SPG16); “Perspectivas etnográficas sobre gênero e Estado: possibilidades analíticas e desafios metodológicos” (SPG25); e “Sexualidade e gênero: diferenças, agenciamentos e conflitos sociais” (SPG30). Os crivos religiosos, bem como as relações entre gêneros e religiosidades também serão debatidos em trabalhos apresentados no GT29 “Religião, política e direitos na contemporaneidade”.
CONFLITOS AMBIENTAIS
Já faz tempo que meio ambiente deixou de ser tema de ambientalistas e passou a ocupar também a carteira de assuntos pesquisados por cientistas sociais. A preservação da mata e da flora mantém relação direta com o debate sobre modelos de desenvolvimento. Não por acaso, este será o tema da mesa redonda “Políticas públicas, meio ambiente e desenvolvimento” (MR21), que contará com exposições de Hemerson Luiz Pase (FURG), Valéria Pereira Bastos (PUC- Rio), Maria Dolores Lima da Silva (UFPA) e José Gomes Ferreira (UFRN), sob coordenação de Fábio Figueiredo (UFRN).
Grandes projetos, mineração e garimpo, sobretudo, os realizados sem fiscalização, são temas de inúmeros trabalhos que serão apresentados no GT06 “Conflitos e desastres ambientais: violação de direitos, resistência e produção do conhecimento” e no SPG8 “Conflitos ambientais e disputas territoriais: desafios teórico-metodológicos das ciências sociais”.
Os conflitos são tema central também da mesa “Grandes projetos e conflitos ambientais: (des)governança da terra e recursos, violação de direitos, estratégias de resistência de comunidades atingidas e atuação do(a) antropólogo(a)”, que contará com exposições de Stephen Grant Baines (UnB), Eliane Cantarino O’Dwyer (UFF) e Ana Flávia Moreira Santos (UFMG), com coordenação de Aderval Costa Filho (UFMG).
O grande número de trabalhos sobre conflitos no campo e a relação entre meio ambiente e modelo de desenvolvimento, provavelmente, está atrelado ao número crescente de conflitos no campo vivenciados no Brasil neste último período. Trata-se de um problema secular do país, que ganha contornos dramáticos quando se manifesta na forma de massacres e chacinas.
EXPOSIÇÕES E FILMES
Nove ensaios fotográficos serão expostos ao longo dos quatro dias de evento, tendo por objeto, variados temas, como corpos e corporeidades, territórios de identidades negras, danças e outras manifestações culturais, protestos religiosos e de movimentos pela diversidade sexual. Serão exibidos sete filmes ao longo de três sessões de cinema. Os filmes abordam assuntos distintos como xamanismo, música e dança e lideranças políticas, além de contarem histórias de vida de artistas, pensadores e outras personalidades de destaque.
CURSO E WORKSHOP
Este ano, quem desejar aprofundar conhecimentos no campo das Ciências Sociais, pode escolher uma das temáticas a serem abordadas no minicurso, que será realizado ao longo do evento. O curso está organizado em três aulas distintas, que não guardam relação entre si: Aula 1. “As conexões do desenvolvimento do capitalismo no Brasil com outras formas socioprodutivas vistas pelo prisma dos estudos do trabalho”, que será ministrado pelo professor Roberto Véras de Oliveira (UFPB); Aula 2. “Reforma Política no Brasil: controvérsias, alternativas e expectativas”, a ser ministrada pela professora Silvana Krause (UFRGS); e Aula 3. “Regimes patrimoniais, dispositivos de salvaguarda e realidades metaculturais: por uma nova agenda para os estudos sobre o patrimônio cultural”, ministrada pelo professor Antonio Augusto Arantes (Unicamp).
Por fim, serão realizados dois workshops este ano: “Usos criativos de acervos – difusão e acesso – a experiência do Instituto Moreira Salles” (WS01), ministrado por Roberta Zanatta, do IMS, parceiro do 41º ANPOCS; e “Introdução ao uso de bancos de dados” (WS02), ministrado por Diego Novais (USP) e Giovana Cotrin Loro (USP).
Como em anos anteriores, a programação completa do 41º ANPOCS encontra-se disponível no site www.anpocs.org.br e também pelo aplicativo do Encontro que pode ser baixado em celulares e tablets a partir do play store do seu dispositivo.
Mais informações:
Ana Claudia Mielke | Assessoria de Imprensa
41º Encontro Anual da ANPOCS | De 23 a 27 de outubro de 2017, Caxambu (MG)
Telefones: (11) 3091-4664 | (11) 99651-8091