Amazônia indígena: a floresta como sujeito
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Cultivada, manejada pelos humanos durante milênios, a floresta amazônica alterou-se, tornou-se ‘outra’, sem deixar de ser floresta; manteve a sua autonomia de sujeito – sujeito da sua própria renovação e reprodução. Em outras palavras, a Amazônia tornou-se ‘antropogênica’ – a um só tempo cultural e natural, fruto de uma relação de mão dupla entre sujeitos: o Homem e a Floresta, na qual a ação de um não anula a do outro. Graças à Antropologia, sabemos que as sociedades indígenas da Amazônia conferem dignidade de pessoa ou sujeito aos não humanos. A relação entre sujeitos (simétrica, de troca e reciprocidade) é uma relação ética e também poética. Por outro lado, o que prevalece na civilização ocidental é a relação sujeito-objeto (assimétrica, autoritária, de poder e dominação), da qual se origina a Natureza-objeto, em oposição ao Homem-sujeito, único detentor de Cultura. Ora, ‘o outro como objeto’ é a negação do outro e a negação da ética. Nisso reside a alteridade radical dos modos de ser e pensar indígenas com relação ao Ocidente. Essa ‘alteridade indígena’ tem, para nós, valor de tesouro e sabedoria. Há, porém, um Ocidente criança e poeta que se reconhece nos povos indígenas e na sua experiência de mundo
- Patrick Pardini
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