- Criado: 23 Novembro 2015
23 de setembro de 1954 – 22 de novembro de 2015
É com profundo pesar que comunicamos o repentino e trágico falecimento, neste domingo (22/11/2015), do Professor Sam Moyo, estimado acadêmico e ativista. Sam Moyo estava em Délhi, Índia, onde participara da conferência “Labour Questions in the Global South”, na Universidade Jawaharlal Nehru, quando sofreu um fatal acidente de carro.
Nascido em 1954 em Harare, Zimbábue; falante de inglês, Ndebele e Shona; tendo se formado intelectual e politicamente entre Zimbábue, Libéria, Gâmbia, Serra Leoa, Senegal e Canadá, Sam Moyo esteve engajado, nos últimos trinta anos, em trabalhos, pesquisas e desenvolvimento de políticas públicas concernentes a questões agrárias no Zimbábue, na SADC (sigla em inglês para Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) e na África em geral. Atuou fortemente na universidade, no governo e em organizações da sociedade civil, abarcando, principalmente, os temas da expropriação da terra, alimentação, agricultura e políticas de energia; e nunca se deixou ludibriar pelos ataques maniqueístas ao quadro político de seu país. Com aguçado senso crítico, extraordinária energia e integridade exemplar, Sam promoveu, durante toda sua vida e por todos os cantos onde passou, conversas sustentadas em pesquisas empíricas sobre a expropriação da terra e seus efeitos sobre as teorias econômicas e sociológicas sobre o campesinato e a globalização.
Na Universidade do Zimbábue, Moyo foi professor pesquisador e chefe do departamento de Agricultura e Desenvolvimento Rural, de 1987 a 1995. No final dos anos 1990, coordenou a equipe de aconselhamento técnico para a reforma agrária do governo do Zimbábue. Entre 1995 e 2011, foi diretor do SARIPS (Southern Africa Regional Institute for Policy Studies) e implementou programas de pós-graduação em estudos de políticas públicas em Harare.
Enquanto membro-fundador e diretor executivo do African Institute for Agrarian Studies (AIAS), Sam Moyo esteve à frente de pesquisas de políticas que envolvessem questões agrárias na África e coordenou redes de pesquisas colaborativas em países do Sul global, inspiradas em sua forte defesa de um Pan-Africanismo e da solidariedade sul-sul. Sam Moyo também foi presidente, vice-presidente e membro do comitê executivo do CODESRIA (Conselho para o Desenvolvimento de Pesquisa Social na África).
Sam Moyo teve uma estreita relação com o Brasil. Foi professor visitante em diversas instituições, como a Universidade de Brasília, a Universidade Federal Fluminense e a Universidade Federal do ABC (São Paulo). Um fruto dessa estreita relação é a revista internacional Agrarian South, da qual Moyo era editor-chefe. Fundada em 2012 e publicada pela SAGE, a revista foi pensada como canal para expressar a produção intelectual de um sul que não é geográfico, mas que reclama direitos à terra baseados em lutas contrahegemônicas de milhares de pessoas cujos projetos políticos são menosprezados intelectualmente devido a sua inadequação aos modelos estabelecidos.
Duas de suas publicações mais relevantes são: Moyo, S.; Chambati, W. (orgs.). Land and Agrarian Reform in Zimbabwe: Beyond White-Settler Capitalism, Council for the Development of Social Science Research in Africa (CODESRIA) Dakar, 2013.
Moyo, S.; Yeros, P. (eds) Reclaiming the Land: The Resurgence of Rural Movements in Africa, Asia and Latin America. Londres, Zed Books, 2005.
Sam Moyo deixa esposa e filhas. É uma inestimável perda política e intelectual para as ciências sociais. Sua astúcia, seu bom humor e seu sorriso irremovível continuarão fazendo morada nos debates mais árduos.
Marcelo Rosa – Laboratório de Sociologia Não Exemplar
Antonádia Borges e Stella Paterniani – Grupo de Estudos em Teoria Antropológica (gesta) Universidade de Brasília