- Criado: 08 Janeiro 2016
O Conselho Editorial de VIBRANT, preocupado com as consequências do indeferimento de pedido de auxílio submetido ao CNPq para o custeio das edições do portal multilíngue, mantido pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), solicita providências, conforme razões expostas na carta.
Carta aberta ao Professor Hernan Chaimovich Guralnik, Presidente do CNPq
Saberia a burocracia avaliar as consequências de suas decisões?
VIBRANT – Virtual Brazilian Anthropology (www.vibrant.org.br) é a plataforma multilíngue da Associação Brasileira de Antropologia, que tem por objetivo contribuir para a internacionalização da Antropologia feita no Brasil. Ela vem sendo publicada ininterruptamente em duas edições anuais desde 2004 e desempenha sua missão de modo eficaz pois é acessada por um número crescente de pesquisadores dos Países Baixos, México, Espanha, Alemanha, Canadá, Argentina, Portugal, Reino Unido, França e Estados Unidos, entre outros, além do Brasil. Segundo Google Analytics, esses acessos aumentaram entre 2012 e 2015 em 289% e os downloads de artigos em 167%. Os números indicam, portanto, que - se a burocracia não atrapalhar - essa tendência tende a subir.
Entretanto, o respeitável e internacionalmente reconhecido perfil dessa publicação não foi suficiente para que o pedido de R$ 34.000,00 para custeio dos dois números previstos para 2016 encontrasse acolhida na retórica oficial em prol da internacionalização da ciência brasileira. Por mensagem eletrônica, o Coordenador Geral de Programas de Pesquisa em Ciências Exatas do CNPq comunicou ao Editor de VIBRANT, a 3 de dezembro último, que ‘sua solicitação foi indeferida pela Diretoria, conforme justificativa abaixo: a avaliação da proposta foi prejudicada, pois a mesma não atende ao item II.2.2.1, letra ´c´ da Chamada, cuja redação é: ´estar, obrigatoriamente, indexado em 2 (duas) bases de dados entre as nomeadas a seguir: ISI (Thomson Co.), Scopus (da Elsevier), PubMed (US National Library of Medicine) ou Scielo.’ Simples assim!
O projeto enviado ao CNPq deixa muitíssimo claro que essa publicação resulta de trabalho cuidadosamente conduzido por seus editores, acompanhado pelos membros dos Conselhos Editoriais brasileiro e internacional, trabalho esse que é alimentado por inúmeros antropólogos que a ela têm submetido - e nela têm publicado - resultados de suas pesquisas, que têm colaborado como editores de dossiês temáticos ou como assessores, na seleção de artigos para publicação. Além disso, ela só tem sido financeiramente viável por contar com recursos dos programas de pós-graduação para o pagamento de, praticamente, a totalidade das traduções do material publicado. VIBRANT é, portanto, produto coletivo da comunidade antropológica brasileira, e leva a assinatura de sua associação. Aliás, produto de alta qualidade, classificado na categoria A1 do Qualis/CAPES.
A mensagem do CNPq sugere que os analistas não teriam levado em conta essa realidade, e tampouco o fato de que, além de estar efetivamente incluída em SciELO, VIBRANT aguarda desde agosto de 2015 decisão sobre sua inclusão em Scopus e está indexada em I2ORS, Citefactor, InfoBase, ASI, DOAJ, HAPI e Latindex.
A decisão do CNPq coloca em risco a continuidade da revista e, em consequência disso, sua permanência em sistemas internacionais de indexação. Não fosse a agilidade de seu editor e a visão de Stephen Nugent e John Gledhill, editores de Critique of Anthropology, o número 13 ficaria na gaveta. A generosa doação de 2.000 libras provenientes de royalties do periódico britânico - que muito agradecemos - permitiu que a antropologia brasileira continuasse no circuito internacional por mais alguns meses, ainda que graças a recursos externos. Que retrocesso!
É inaceitável que se pretenda internacionalizar a ciência produzida no país, sem respeitar a qualidade do que se coloca em circulação. É inadmissível que um freio burocrático fragilize a continuidade de uma publicação relevante para a vida acadêmica no país e coloque em risco sua permanência em sistemas internacionais de indexação, sistemas dos quais, aliás, ela deve fazer parte para poder continuar existindo.
Por todas essas razões, apoiamos firmemente o pedido de reconsideração encaminhado pelo editor de VIBRANT ao CNPq e esperamos que essa precipitada decisão seja reavaliada.
Conselho Editorial de VIBRANT
Alba Zaluar (UERJ), Antonio Arantes (UNICAMP), Bela F. Bianco (UNICAMP), Claudia Fonseca (UFRGS), Cornélia Eckert (UFRGS), Jane Beltrão (UFPA), João Pacheco de Oliveira Filho (UFRJ/MN), Karina Kuschnir (UFRJ), Lux Vidal (USP), Manuela C. da Cunha (Universidade de Chicago), Mariza Peirano (UnB), Omar Thomas (Unicamp), Paul Elliott Little (UnB), Rafael M. Bastos (UFSC), Ruben Oliven (UFRGS), Simoni Lahud Guedes (UFF).