Somos muitos trabalhadores e trabalhadoras nos Institutos Federais e nas Universidades Federais brasileiras, contratados e contratadas para atender a demandas pedagógicas nos diferentes níveis de ensino, desde a educação infantil (como o Núcleo de Desenvolvimento Infantil-UFSC), passando pelos Ensinos Fundamental e Médio, com os Colégios de Aplicação, e chegando aos cursos técnicos e de graduação distribuídos em diferentes campi e modalidades. Contribuímos cotidianamente para a oferta de um ensino de excelência que hoje traz reconhecimento a nível mundial para muitas de nossas universidades, renovando, mesmo que temporariamente, seus quadros docentes. Apesar de nossos esforços, é comum que nosso trabalho, entretanto, passe com frequência despercebido, o que nos coloca a cada semestre mais à margem do funcionamento das instituições; afinal, somos substituíveis. Isto vem se agravando no contexto de calamidade pública que presenciamos, aprofundando a precarização de nosso trabalho e de nossas vidas. Vivemos uma realidade de contratos ameaçados e sendo encerrados com justificativas que se restringem a aspectos burocráticos, atualmente motivados pela Instrução Normativa n.1 de 27 de Agosto de 20191, que entre outros temas trata de impossibilidade de trocas de justificativa de contratação, revelando o desprezo e o desconhecimento do atual governo em relação a natureza de nosso trabalho. É inadmissível que um documento proveniente do Ministério da Economia se sobreponha a esferas institucionais que têm capacidade técnica e teórica para administrar as demandas que são pedagógicas do ensino.
As associações cientificas de Ciências Sociais, abaixo assinadas, manifestam seu repúdio ao ultimo ato do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, que anula a Portaria Normativa 13/2016, que estabelecia a obrigatoriedade de cotas na pós-graduação.
Este ato não nos surpreende, vindo de um ministro que se caracterizou por inúmeras declarações contrárias às Ciências Humanas, incluindo ataques a Antropólogos, Sociólogos e outros profissionais.
Seu desrespeito à educação e à democracia é patente. Seu último ato corresponde a um retrocesso do Estado brasileiro em seu compromisso, assumido na Constituição de 1988, de reparação histórica à populações negras e indígenas. As politicas de ações afirmativas para estudantes negros/as, indígenas, pessoas trans e com deficiência estão entre as mais importantes politicas públicas brasileiras no campo da Educação. Reiteramos, assim, a importância de sua manutenção nos programas de Pós-Graduação em Antropologia, Ciência Politica e Sociologia.
Assinam
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
Associação Brasileira de Antropologia
Associação Brasileira de Ciência Política
Sociedade Brasileira de Sociologia
A SBPC, a ANPOCS e outras sociedades científicas estão apoiando iniciativas meritórias que buscam angariar apoio financeiro (doação) às comunidades e favelas que estão passando por uma situação de muita ameaça ao bem mais precioso que temos, a própria vida. Estudos do perfil das mortes pela COVID-19 no Brasil, mostram que diferentemente da Europa, que para famílias pobres em favelas e comunidades, particularmente nas periferias das grandes cidades o CEP (endereço) é também um forte determinante das situações de morte. Muitos jovens e adultos abaixo de 60 anos estão morrendo nas comunidades. Tomamos então a iniciativa de listar um conjunto de ações de abrangência nacional que apoiam favelas e comunidades pobres no território nacional.
A listagem abaixo foi extraída do site www.paraquemdoar.com.br , onde também é possível encontrar outras iniciativas locais.
Seguem as iniciativas de abrangência nacional, como sugestões para apoio financeiro:
#FamiliaApoiaFamilia
#favelacontraovirus
#SOSPrecisamosContinuar
ActionAid no combate ao coronavírus
Ação contra o coronavirus
ACNUR
Criança Segura no combate à pandemia
Doações Emergências para o Fundo Baobá
Fraternidade Sem Fronteiras
Fundo de Amparo aos Profissionais do Audiovisual Negro
Fundo ELAS na Emergência do Futuro
Fundo Emergencial para a saúde - Coronavírus Brasil
Fundo Éditodos
Juntos pelo melhor
Juntos somos mais forte contra o coronavirus
Mães de Favela (exceto Alagoas)
Matchfunding ENFRENTE
Matchfunding: Salvando Vidas
Não espalhe o vírus, #EspalheSolidariedade
Observatório de Favelas
Por uma quarentena mais justa
PROJETO ISOLAR
Redes de Apoio
Transforma Brasil
UNICEF no Brasil
Unidos Contra a COVID-19: Fundação Oswaldo Cruz
É com total indignação que nós, discentes do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA/UFPE), vimos publicamente pronunciar e registrar nosso repúdio em relação às novas regras adotadas para distribuição de bolsas de mestrado e doutorado estabelecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), através da Portaria 34, datada de 9 de março de 2020, blicada no dia 18 de março de 2020. Leia mais no pdf abaixo.
Em Pernambuco milhares de famílias vivem do trabalho pesqueiro artesanal (algumas estimativas apontam 30.000 pessoas), sendo responsáveis pela captura de, aproximadamente, 98% da produção pesqueira extrativista.
Esta pesca, que é o esteio de uma expressiva e complexa cadeia produtiva (atravessadores/comerciantes de pescados; fabricadores e vendedores de gelo; setores do turismo, de bares e restaurantes; artesãos de barcos e de armadilhas; dentre outros), oferta, ademais, relevantes serviços ecológicos e de segurança alimentar em vários lugares. Ela também se vincula a modos de vida e de trabalho ancestrais, com suas dinâmicas culturais bastante singulares e suas simbioses com a natureza, que foram capazes de construir um rico patrimônio material e imaterial para Pernambuco. Leia mais no pdf abaixo.
Carta das Entidades de Saúde Coletiva e de Bioética à população brasileira:
Imprescindível o respeito aos direitos humanos e ao conhecimento científico na resposta urgente à Covid-19
Dando continuidade à nota publicada em 24 de março, as entidades signatárias desta carta vêm a público reforçar seu posicionamento contrário ao pronunciamento do Presidente da República em cadeia nacional de rádio e televisão e à fragilização reforçada no dia 25 de março pela equipe técnica do Ministério da Saúde, contrariando as adequadas medidas e recomendações inicialmente adotadas para o estágio atual da disseminação da Covid-19.
No último dia 19 de março, através de um repasse do coordenador da área de Antropologia e Arqueologia, recebemos com perplexidade as determinações da Portaria nº 34 da CAPES, publicada no dia 18 de março de 2020, alterando os critérios de distribuição de bolsas de mestrado e doutorado em nosso país, e levando a uma lastimável perda de 35 bolsas de doutorado e 50 de mestrado da área como um todo.
A referida portaria descumpre os acordos firmados e anunciados anteriormente, os quais já eram problemáticos por vários aspectos de governança e muito pouco favoráveis à pesquisa e ao ensino de pós-graduação no Brasil, acentuando ainda mais a crise generalizada da pós-graduação. Trata-se de uma ação destruidora e autoritária, uma expressão da brutalidade com o qual a CAPES vem atuando nos últimos tempos. Isso semeia ainda mais caos num momento em que a sociedade brasileira precisa se unir em solidariedade por uma questão grave de saúde pública, tirando mais dos já parcos recursos que sustentam os programas e seus pesquisadores e suas pesquisadoras, e virtualmente extinguindo a possibilidade de a ciência brasileira contribuir para a solução do problema que se apresenta.
Publicado em 02/10/2019
“A redução drástica de recursos para essas áreas é uma decisão política e é importante que os parlamentares brasileiros estejam conscientes disto”, afirmam as entidades que realizam nesta quarta-feira, 2 de outubro, uma Marcha pela Ciência no Congresso Nacional
As entidades científicas e acadêmicas que compõem a Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) entregam nesta quarta-feira, 2 de outubro, uma carta aos parlamentares ressaltando a grave situação orçamentária para Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) para 2020. Junto a elas, representantes de dezenas de sociedades e instituições de CT&I de todo o País realizam nesta quarta-feira, 2 outubro, em Brasília, para uma Marcha Pela Ciência no Congresso Nacional.
Publicado em 30/09/2019
Toda a comunidade científica está convidada a participar das atividades no dia 2 de outubro. O objetivo é sensibilizar os parlamentares para alterarem a proposta de orçamento 2020 enviada pelo governo, que traz cortes gravíssimos para a educação e a ciência. Confira a pauta e a programação
Publicado em 30/09/2019
MANIFESTO DE GREVE - DISCENTES ANTROPOLOGIA (UFSC)
Nosso desejo neste manifesto é, ao mesmo tempo, compartilharmos nossa experiência de Greve aqui na Universidade Federal de Santa Catarina até o momento e conhecer as movimentações em outras Universidades, nos informando também sobre a situação atual destas, considerando que o projeto de desmonte é nacional e que todas as Universidades e Institutos Federais de Educação estão expressivamente ameaçados.
Nós, abaixo assinados, que representamos a sociedade civil no Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do IPHAN, vimos expressar nossa inquietação com o modo como recentemente foram substituídos alguns dos superintendentes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sem o necessário respeito a critérios de qualificação que o exercício do cargo exige.
Nosso posicionamento se faz urgente devido a processos inadequados de escolha dos novos ocupantes como, por exemplo, por meio de “sorteio” de parlamentares que, assim, teriam a prerrogativa de indicar pessoas de “sua confiança”, independentemente de qualificação adequada para o exercício da função. Procedimento este que merece a enfática rejeição de todos aqueles comprometidos com a preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Esta mesma preocupação acaba de ser manifestada por entidades profissionais relacionadas a esse campo e que, em documento emitido em 20 de setembro de 2019, declararam-se “contra a nomeação arbitrária para importantes cargos de definição de políticas de preservação em nosso país.”
Nosso propósito se traduz na defesa não apenas do rico e diversificado patrimônio cultural do povo brasileiro, como também da instituição que, há muitas décadas, vem prestando relevantes serviços à nação e que merece ser preservada na sua integridade e na sua reconhecida competência, como vem fazendo há 82 anos na proteção e promoção do patrimônio cultural.
Essa trajetória faz do IPHAN uma das instituições mais legítimas do Estado brasileiro, tanto na produção de conhecimento, como na seleção e atuação de seus servidores, de seu corpo diretor e dos superintendentes que, em cada estado da Federação, implementam essa política em estreita interlocução com as comunidades locais.
A inobservância desses louváveis critérios coloca em risco a eficácia do IPHAN e representa uma ameaça à proteção da cultura nacional, que é o nosso objetivo compartilhado.
ANGELA GUTIERREZ
ANTONIO CARLOS MOTTA DE LIMA
ARNO WEHLING
CARLOS AUGUSTO CALIL
CARLOS EDUARDO DIAS COMAS
JORGE EREMITES DE OLIVEIRA
JOSÉ REGINALDO SANTOS GONÇALVES
LEONARDO BARCI CASTRIOTA
LUIZ ALBERTO RIBEIRO FREIRE
LUIZ PHELIPE DE CARVALHO CASTRO ANDRÈS
MARCIA GENÉSIA DE SANT’ANNA
MARCOS CASTRIOTO DE AZAMBUJA
MARIA CECÍLIA LONDRES FONSECA
MARIA MANUELA LIGETI CARNEIRO DA CUNHA
NIVALDO VIEIRA DE ANDRADE JUNIOR
ULPIANO TOLEDO BEZERRA DE MENESES
Nos dias 23 e 24 de setembro de 2019,na sede da SBPC em São Paulo, foram apresentados às sociedades científicas que fazem parte do Fórum de Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas, Letras e Artes (CHSSALA), os principais resultados do diagnóstico dessas áreas, realizado pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), a partir de demanda feita pelo Forum ao MCTIC em 2016. O diagnóstico mostra dados concernentes ao perfil dos pesquisadores dessas áreas, como também dados referentes aos temas e redes das pesquisas e ao seu financiamento. Traz também dados sobre como estas áreas de conhecimento estão trabalhando em temas estratégicos para o desenvolvimento do país . As Ciências Sociais Articuladas estiveram representadas na reunião por Fernanda Sobral (nossa representante na equipe de governança do projeto CHSSALA), Miriam Grossi (ANPOCS), Jacob Lima (SBS) e Heloisa Buarque de Almeida (ABA).
O objetivo deste projeto é que esses resultados , ao serem apropriados pelo MCTIC e pelas agências de fomento à ciência e pós-graduação, possibilitem a elaboração de políticas de apoio sintonizadas com o que as áreas de CHSSALA tem desenvolvido em prol da ciência brasileira e internacional. A partir destes dados, cada sociedade científica associada ao Forum de Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Letras e Artes poderá fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas e de fomento de acordo com o seu perfil.
A equipe de pesquisadores do CGEE apresentará na 43º Encontro Anual da ANPOCS, no dia 23 de setembro de 2019 os dados das áreas de Ciências Sociais e fará também no mesmo dia um Workshop de treinamento para uso de banco de dados em C&T.
Na mesma semana (do dia 26/08/19) em que mais de 500 professores da rede pública, pesquisadores e gestores da Educação, na presença de membros dos poderes executivo e legislativo de Santa Catarina, reuniram-se para reafirmar a importância de um ensino fundamentado na Ciência (e não em preconceitos ou crenças), assistimos, no cenário político, um fenômeno preocupante. O Governador Moisés, que nos primeiros meses de governo vinha construindo uma imagem de gestor técnico, moderno e conciliador, gravou um vídeo, ao lado do Secretário da Educação Natalino Uggioni, no qual anuncia que "não permitirá", no currículo básico catarinense, o que chama de "ideologia de gênero".
O debate, iniciado por um pequeno grupo de deputados estaduais, foi uma reação alarmista e mal fundamentada ao documento denominado Currículo Base da Educação Infantil e do Ensino Fundamental do Território Catarinense. Segundo a Resolução CEE/SC nº 070, de 17 de junho de 2019, que o institui e orienta, o texto normatiza a adequação dos currículos e propostas pedagógicas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental no âmbito do Sistema Estadual de Educação de SC à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Note-se que, segundo esta resolução, as instituições ou redes de ensino poderão optar por aderir, ou não, ao currículo em pauta. As que optarem por não aderir deverão produzir seu próprio referencial curricular, respeitando, todavia, o que estabelece a BNCC, conforme determina a Resolução CNE/CP nº2/2017.
No referido texto, a palavra “gênero”, que é provida de variados significados na língua portuguesa e faz parte do linguajar científico de diversas áreas, incluindo a biologia, gerou desconforto naqueles setores que optaram por transformá-la, preconceituosamente, em algo obsceno, quase uma heresia.
Tememos que, ao ceder a pressões de natureza fundamentalista, que nada têm a ver com os debates qualificados dos profissionais da educação, o governo esteja iniciando um movimento na contramão da escola democrática, científica e livre de preconceitos que todos defendemos. Por isso, vimos a público protestar contra os ataques infundados direcionados ao campo científico dos estudos de gênero, ao mesmo tempo em que alertamos quanto aos riscos que tais atitudes representam para o desenvolvimento da sociedade catarinense, colocando-a numa perigosa situação de afastamento dos valores científicos, humanos e sociais partilhados pela maioria dos catarinenses, bem como pelos povos mais desenvolvidos do planeta.
Estudos de gênero e sexualidade são no mundo todo um importante campo de pesquisa científica, e Santa Catarina é, reconhecidamente, um dos principais polos de pesquisa nesta área. Assim, consideramos inaceitáveis as declarações públicas que a caracterizam como um tema "ideológico".
Estudos sobre gênero e sexualidade têm foco na pesquisa sobre desigualdades históricas e culturais entre homens e mulheres. É um campo de conhecimento que desvela os mecanismos que produzem e reproduzem violências e discriminações, particularmente aquelas perpetradas contra as mulheres e contra a população LGBT, em suas interfaces com discriminações étnico-raciais, de deficiência e geracionais. Pesquisas realizadas em Santa Catarina mostram um Estado com altos índices de feminicídio e violência contra mulheres adultas e meninas, altas taxas de gravidez na adolescência e um crescente número de jovens acometidos por infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Conforme apontam organismos internacionais como a ONU, a UNESCO e a UNAIDS, abordar estas questões na escola - espaço fundamental de construção de cidadania - é a melhor forma de combater discriminações e violências desde cedo, permitindo às crianças e aos jovens acesso às informações e mecanismos para se defenderem.
Elaboraram este manifesto:
Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de SC (SBPC-SC)
Fórum Estadual Popular de Educação de SC (FEPE-SC)
Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (IEG/UFSC)
Também assinam este manifesto:
Associação Brasileira de Antropologia (ABA)
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – Seção SC (ANFOPE-SC)
Associação Nacional de História - Seção SC (ANPUH-SC)
Associação Nacional de Política e Administração da Educação – Seção SC (ANPAE-SC)
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)
Comitê de Direitos Humanos do Instituto Federal de Santa Catarina (CDH-IFSC)
Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
O presente manifesto público foi encaminhado às seguintes autoridades e entidades:
Senhor Governador do Estado de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva; Senhor Secretário de Estado da Educação, Natalino Uggioni; Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina; Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina; Comissão de Economia, Ciência, Tecnologia, Minas e Energia da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina
Florianópolis, 2 de setembro de 2019
Publicado em 06/08/2019
A Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e a Associação Brasileira de Ciência Politica (ABCP) respaldam o Manifesto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, publicado em 20/07/2019 em apoio ao trabalho desenvolvido pelo INPE no processo de monitoramento do desmatamento da Amazônia Brasileira.
No referido manifesto, a SBPC assinala que a ciência produzida pelo INPE está entre as melhoras do mundo na sua área de atuação. Ressalta as qualidades científicas do Diretor do INPE, Ricardo Galvão, reconhecidas tanto no país, quanto no contexto internacional, assim como a inconsistência das críticas feitas pelo Governo Federal aos dados relativos ao processo de desmatamento da Amazônia brasileira.
Na sequência do processo da infundada desqualificação do trabalho científico desenvolvido pelo INPE no dia 2 de agosto ocorreu a demissão do seu Diretor. Este ato perpetrado pelo Governo Federal expressa um grave atentado às atividades científicas realizadas no país. Certamente, os dados produzidos pela ciência em qualquer parte do mundo são suscetíveis de questionamentos, quando advindos de argumentos sólidos e fundamentados em evidências empíricas. Ao contrário disto, a origem do questionamento improcedente do trabalho científico realizado pelo INPE apoiou-se em argumentos ideológicos e no desprezo à atividade científica.
Contestar dados embasados em pesquisa científica, sem fundamentos sólidos, não resolverá uma série de problemas tais como desmatamento da reserva florestal, mudanças climáticas, desemprego, fome, massacres de populações indígenas, violência e outras questões que têm se agravado a cada dia no país. A desqualificação sem fundamentos do trabalho sério e responsável desenvolvido pelo INPE e a consequente exoneração do seu Diretor constituem um ato de extrema gravidade que coloca em risco a atividade do trabalho desenvolvido pela ciência no país, em diferentes áreas do conhecimento. Este ato irresponsável praticado pelo Governo Federal não apenas atenta contra uma instituição que representa um patrimônio científico nacional, mas também investe de maneira sórdida contra as contribuições da pesquisa para fornecer subsídios para formulação de políticas públicas para enfrentar questões cruciais no Brasil.
Postado em: 15/04/2019
A Conférence des présidents d’université manifesta a sua solidariedade com as universidades brasileiras
A CPU manifesta a sua profunda preocupação face à intenção, divulgada há alguns dias pelo governo brasileiro, de pôr fim aos investimentos federais nas faculdades de Filosofia e Sociologia. O presidente Jair Bolsonaro declarou : “O Ministro da Educação estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). Alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como : veterinária, engenharia e medicina”.
A CPU relembra ainda que não existe boa medicina sem o conhecimento do Homem, nem engenharia sem o conhecimento profundo da sociedade. A ciência enriquece-se através do confronto dos domínios disciplinares, e é pura demagogia servir-se dos interesses dos cidadãos para economizar, através o abandono do financiamento das ciências humanas.
Por este motivo, as universidades francesas pretendem manifestar a sua solidariedade com as suas homólogas brasileiras e, em particular, com os colegas das disciplinas afectadas por essas medidas.
Postado em: 13/05/2019
As Associações Científicas abaixo assinadas vêm por meio desta manifestar sua indignação e repúdio às informações inverídicas sobre as Áreas de Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Arte apresentadas pelo ministro da Educação, Sr. Abraham Weintraub, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal no dia 07 de maio próximo passado. Segundo essas informações apenas 13% dos trabalhos que apresentam relevância científica no Brasil são provenientes dessas áreas, sendo que elas estariam recebendo a maior parte das bolsas da Fundação Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Essas afirmações apenas demonstram desconhecimento dos fatos reais, pois os dados da própria fundação, que pertence ao Ministério da Educação, demonstram que essas afirmações são um impropério. Em primeiro lugar, as áreas citadas (Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Arte) somam juntas 26.910 bolsas de todas as modalidades (mestrado, doutorado pleno, pós-doutorado e iniciação científica). Longe de ser a maioria, representam apenas 27% das 100.742 bolsas conforme dados da Capes, que podem ser acessados no site https://geocapes.capes.gov.br/geocapes/.
Em segundo lugar, os dados referentes à produção científica das áreas nas tabelas que estão presentes na página “Detalhes da Produção Intelectual Bibliográfica de Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu no Brasil 2017” também demonstram que a produção científica da área é muito maior que os míseros 13% citados,(https://dadosabertos.capes.gov.br/dataset/detalhes-producao-intelectual-bibliografica-programas-pos-graduacao-stricto-sensu-brasil-2017).
Dos 241.419 artigos registrados em periódicos avaliados pelo Qualis Capes, 63.207 são provenientes dessas áreas, representando 26% do total, compatível com o número de bolsas que as áreas detém. Dos 80.779 livros registrados, 54.060 são dessas áreas, representando 67%, mais do que o dobro de número de bolsas que as áreas detém. Dos 221.053 artigos em anais de eventos científicos, 72.908 são dessas áreas, representando 33%, acima também da media de bolsas.
Postado em: 08/05/2019
Os professores do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina manifestam seu veemente repúdio às declarações do presidente da República e do ministro da Educação pela “descentralização de investimentos em faculdades de Filosofia e Sociologia (humanas)”, com vistas a “focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte”. Somadas ao anúncio do corte de 30% no orçamento das universidades públicas em 2019, as declarações compõem um movimento de ataque à liberdade de pensamento e à autonomia universitária que atinge as Instituições Federais de Ensino Superior em todas as áreas de conhecimento.
Criado em 1970, o Departamento já contribuiu com a educação de milhares de estudantes de graduação, mestrado e doutorado. O curso de Ciências Sociais, oferecido em conjunto com o Departamento de Antropologia, já formou 1.309 egressos, que hoje atuam como docentes, técnicos ou pesquisadores em todo o país, nas mais variadas atividades profissionais. O Departamento de Sociologia e Ciência Política ainda oferta disciplinas para formação integral de estudantes em outros 10 cursos, de especialidades tão distintas quanto a odontologia ou as relações internacionais, a economia ou o design. Assim como no ensino, o Departamento tem extensa e qualificada produção em pesquisa e em extensão.
As declarações das autoridade não refletem apenas desconhecimento do papel, do alcance e da relevância das humanidades; compõem também um ataque hostil, do governo e de parte de seus apoiadores, às universidades públicas, patrimônio dos brasileiros. Nelas se faz a maior parte da produção científica do país, produzindo conhecimento novo e útil para cidadãos, empresas, organizações, governos. Desse modo, os professores do Departamento de Sociologia e Ciência Política se unem a instituições de ensino, associações de docentes e pesquisadores de diversas áreas de conhecimento em defesa do incremento nos investimentos no ensino superior, da valorização da universidade pública em sua autonomia, da liberdade de cátedra e do direito à pluralidade de pensamento.
Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Postado em 06/05/2019
Ricardo Salles, le ministre de l’environnement du président d’extrême droite Jair Bolsonaro, estime que son travail consiste plus à « défaire qu’à faire » et agit en conséquence.
Des ministres de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles est l’un des plus francs. L’un des plus efficaces, aussi. Mais à ceux qui espéraient que le ministre brésilien de l’environnement d’un gouvernement d’extrême droite peu porté sur la question écologique s’engagerait malgré tout dans la lutte contre la déforestation de l’Amazonie ou le réchauffement climatique, l’homme de 43 ans a offert un démenti cinglant, affirmant que son travail consistait davantage à « défaire qu’à faire ».
« Le Brésil souffre de graves problèmes depuis [l’adoption de] la Constitution de 1988 qui a créé trop d’obligations », a-t-il détaillé dans un entretien à la radio Jovem Pan, vendredi 26 avril, fustigeant les « gouvernements de gauche de ces vingt dernières années » qui ont, selon lui, développé un « appareillage idéologique et bureaucratique (…) freinant le développement économique du pays ».
Fidèle soldat de Jair Bolsonaro avec lequel il partage l’obsession d’un « marxisme culturel » qui se serait infiltré dans le pays, le quadragénaire démantèle, les unes après les autres, les organisations étatiques chargées de la préservation de l’environnement afin d’en chasser les « niches socialistes ».
Postado em 06/05/2019
The Society for the Advancement of American Philosophy (SAAP) commends and supports the Brazilian Logic Society (SBL) and their allies for their recent statement which both disavows the proposal by the President of Brazil, Jair Bolsonaro, to defund teaching and research in the fields of Philosophy and Sociology in Brazilian Universities and also eloquently defends the value of a broad and varied education as an essential part of a free and worthwhile life.
While their entire statementbears attention and wide dissemination, we salute in particular their reminder that the practice and study of philosophy and sociology help us think more clearly about questions that inevitably surface as we live our lives:
Anyone who thinks also philosophizes, even though one may not know it. Anyone who ponders upon the practical conditions of his or her professional activity in the context of his or her community is always thinking sociologically as well. Philosophy and sociology do add method and self-awareness to the curious impulse of willing to know that is the life of knowledge. In truth, since Socrates to our days, to ask why we should prefer the answers to the questions ends in shaking the foundations of uncritically held beliefs.
The proposal to defund public access to the social sciences and humanities is but a particularly brazen example of a common and widespread fallacy regarding the value of education, namely that education’s primary purpose is simply to train prospective workers to sell their labor. We heard a less extreme version of this basic fallacy here in the United States when Sen, Marco Rubio proclaimed in 2015that “We need more welders and less philosophers.” Sadly, the fact that humanists and social scientists are increasingly called by their own university administrators to defend the value of their work according to their ability to teach marketable skills or serve as dutiful help-mates to STEM and Business disciplines shows that even the people who purport to represent and lead educators should heed the words of our friends in Brazil.
However, as disturbing as the effort to defund humanities and social science research in the United States might be, we must note and commend the moral courage of our colleagues in Brazil. Bolsonaro campaigned on a platform of unvarnished fascist violence against anyone he and his confederates deemed undesirable and he has openly called on paramilitary forces and the police to use violence on his political enemies. By openly and forcefully disagreeing with his policies, our colleagues in Brazil embody the virtues of courage and wisdom that philosophers and humanists like Socrates modeled for us during their own times of crisis and political cruelty.
Fonte: SAAP - Society for the Advancement of American Philosophy
Postado em: 03/05/2019
A ALAB – Associação de Linguística Aplicada do Brasil, apoia e assina com a ABRALIN – Associação Brasileira de Linguística, o repúdio às recentes declarações do atual presidente da República e de seu ministro da Educação acerca do ensino e da pesquisa na área de humanidades, especificamente em filosofia e sociologia. As declarações baseiam-se na ignorância e no preconceito.
O argumento de que se deve “focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte” é calcado no compulsório interesse do Mercado, que tradicionalmente ignora a importância da pesquisa em Ciências Humanas, a despeito de representarem 38% da comunidade de ciência, tecnologia e inovação no Brasil.
A nossa Constituição estabelece que a educação deve contemplar três finalidades fundamentais: o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nesse sentido, o ensino e a pesquisa nas áreas das humanidades são indispensáveis para a formação integral do cidadão.
A ALAB – Associação de Linguística Aplicada do Brasil apoia incondicionalmente a autonomia universitária, garantida constitucionalmente, afirmando assim o seu compromisso com o progresso científico – nas humanidades ou em qualquer outra área.
Fonte: ALAB
Postado em: 03/05/2019
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva vem a público manifestar sua preocupação com as propostas sugeridas nas declarações do ministro Paulo Guedes, de redução do orçamento destinado ao Censo Demográfico 2020, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que pode afetar diretamente seus resultados.
O Censo Demográfico é feito no Brasil desde 1872 e ao longo dos anos vem sendo constantemente aprimorado, mantendo qualidade técnica e científica, fazendo com que o trabalho gerado e divulgado pelo o IBGE seja reconhecido nacional e internacionalmente. Dentro de uma política de austeridade, as ameaças de corte de 25% em seu orçamento podem levar à redução da informação e da cobertura do Censo 2020, o que irá comprometer o planejamento e monitoramento de todas as políticas públicas em curso, além de afetar gravemente as projeções futuras de nossos indicadores.
Na área da saúde, especificamente, os prejuízos serão imensuráveis em vários aspectos. Todos os indicadores de saúde utilizados para programação, monitoramento e mesmo pagamento das ações de saúde realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) são calculados com base nos denominadores populacionais estimados pelo IBGE. A desagregação de informações pelas áreas de ponderação é essencial para conhecer o perfil demográfico, social e econômico em todos os pequenos municípios do país e em áreas distintas de municípios maiores. Não é possível, portanto, abrir mão da coleta de informações reduzindo equipes ou áreas a serem visitadas. Além disso, para a construção de séries históricas sobre as condições de saúde, confia-se no princípio da comparabilidade dos dados. Portanto, uma quebra em qualquer das etapas do processo do Censo, seja reduzindo o tamanho do questionário ou a equipe de coletadores, pode levar a erros importantes e comprometer em muito a vigilância em saúde e a necessidade de recursos destinados à atenção, à prevenção de doenças e à promoção da saúde.
Entendemos que o IBGE pela qualidade técnica científica de seu corpo técnico é motivo de orgulho para nós brasileiros. Nós nos somamos às demais entidades que defendem a manutenção do Censo 2020 e a integralidade da instituição.
Fonte: Abrasco
Postado em: 02/05/2019
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) vem a público manifestar sua discordância em relação à proposição feita ontem pelo Exmo. Sr. Presidente da República de que não haveria mais investimentos federais para faculdades de Filosofia e Sociologia. Diante desta afirmação e de outras críticas recentes e pouco fundamentadas que as Ciências Humanas e Sociais vêm sofrendo, enfatizamos que é grande a importância dessas ciências para a sociedade brasileira, assim como a das outras áreas do conhecimento. Elas podem não proporcionar, como ocorre com muitos avanços científicos, um retorno econômico imediato para a sociedade, mas podem contribuir fortemente para o desenvolvimento científico e tecnológico do País e para a melhoria das condições de vida de sua população.
A SBPC, uma entidade que congrega todas as ciências e que luta pela melhoria da educação e por políticas públicas que conduzam a um desenvolvimento sustentável do País, escorado na ciência, tecnologia e inovação, se contrapõe a essas proposições, afirmando o caráter científico das Ciências Humanas e Sociais e demonstrando sua importância para as políticas públicas. É essencial para o País, e as entidades cientificas têm defendido isto por décadas, que formemos mais profissionais qualificados nas áreas de engenharia, de ciências naturais e de ciências aplicadas, e que estes encontrem condições adequadas para exercerem suas profissões; mas isto de nenhum modo deve estar associado a um desmonte das áreas de ciências sociais e humanas. Alertamos para o risco da utilização, sem o devido cuidado, de comparações internacionais muitas vezes falsas, imprecisas ou distorcidas para embasar a definição de políticas internas relativas à ciência e à tecnologia.
Cabe lembrar que as Ciências Humanas e Sociais não são ideologias, como tem sido afirmado frequentemente. Elas trabalham com metodologias científicas específicas, que incluem o levantamento cuidadoso de dados com o uso de questionários, entrevistas, análise de documentos e observações no campo de estudo, e suas conclusões estão baseadas em evidências. Elas se utilizam frequentemente de dados estatísticos para chegar a determinados resultados ou conclusões, o que atesta, ainda, a importância de instrumentos de conhecimento, como o Censo Demográfico, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o Censo Educacional e a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que estão também sendo motivo de questionamento por gestores do atual governo.
Postado em: 02/05/2019
Note in repudiation of the statements concerning Philosophy and Sociology made by His Excellency, the President Jair Bolsonaro, and His Excellency, the Minister of State of Education Abraham Weintraub
In support of ANPOF – National Brazilian Association of Graduate Studies in Philosophy.
In support of SBPC – Brazilian Society for the Advancement of Science, the #ScienceOccupyBrasilia movement, and the national mobilization of May 8th and 9th, 2019, against cuts in the budget for Science, Technology and Information.
And in support of all other Academic Associations of Brazil that have raised their voices against the same declarations
The Brazilian Logic Society (SBL) vehemently disavows His Excellency the President Jair Bolsonaro’s and His Excellency the Minister of State of Education Abraham Weintraub’s statements about teaching and researching in humanities, particularly philosophy and sociology. The President announced on his official Twitter account the intention to defund teaching and researching in Philosophy and Sociology. The justification given was that the objective is to concentrate funding on fields that “generate an immediate return to the taxpayer”. By way of explanation, the President added that the government should teach “young people to read, write, and learn job skills that generate income for the person and well-being for the family”. In and interview in 2018, the current Minister of Education had already said universities in Northeastern Brazil—allegedly Brazil’s poorest region—should quit teaching philosophy and sociology in favor of more useful activities, quoting then agriculture programs in cooperation with Israel. In a live transmission on Facebook together with the President, the Minister repeated his claim, adding Brazil should follow Japan’s example: defund philosophy and sociology, which are faculties for the rich people, and give this funding to faculties capable of generating “actual reward, like nursing, veterinary, engineering, medicine”.
Postado em: 02/05/2019
A Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades Federais e o Observatório do Conhecimento, iniciativa de associações e sindicatos docentes de todo o Brasil, vem a público contestar as declarações divulgadas pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, por meio de seu Twitter, no dia 26 de abril de 2019, atacando os cursos de ciências humanas em especial os de Filosofia e Sociologia.
Não há nação desenvolvida no mundo que não possua forte investimento em campos de estudo como os da Filosofia e Sociologia. São estes que permitem estruturar o desenvolvimento de um país, formulando as estratégias para o crescimento econômico e atenção à população. Ao atacar as humanidades, o pensamento estratégico, Bolsonaro acaba por nos condenar à miséria, econômica e intelectual, nos relegar à escuridão da ignorância. Além disso, é um grande equívoco de Jair Bolsonaro responsabilizar a juventude brasileira pela recessão econômica que o país se encontra, enquanto seu governo não apresenta nenhuma proposta concreta neste sentido.
Reforçamos ainda que a educação tem três finalidades: o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A formação acadêmica com base nestas disciplinas é condição indispensável ao pensamento independente e à formação cidadã, conforme previsto nos artigos 205, 206 e 207 da nossa Constituição.
Reiteramos nosso compromisso com a defesa da autonomia universitária e liberdade de cátedra, condições necessárias e essenciais para que o progresso científico aconteça – nas humanidades ou em qualquer outro campo. Não toleraremos qualquer tentativa de arbítrio contra reitorias, professores e professoras, estudantes e trabalhadores na educação, vindo de onde for. Esperamos que o Congresso Nacional e o Judiciário se manifestem e atuem para que os preceitos da Constituição Federal sejam cumpridos, sobretudo quando atacados pelo próprio presidente da República.
Fonte: Observatório do Conhecimento
Postado em: 02/05/2019
A ANPEPP manifesta seu repúdio sobre as declarações do Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro e de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, sobre a possibilidade de extinção de Cursos das Ciências Humanas e Sociais no Brasil.
As declarações desrespeitosas e ofensivas aos e às profissionais e às áreas das humanidades, feitas pelo Presidente da República e pelo Ministro da Educação, evidenciam desconhecimento da produção científica, das bases constitucionais e marcos legais do ensino das Ciências Humanas e Sociais nas universidades e se constituem em um ataque de impropérios e falácias.
Ao presidir o país e delinear a política de educação não se pode desconhecer os marcos legais e bases constitucionais que instituem, historicamente, a autonomia das universidades tal como versa o artigo 207 da Constituição Federal de 1988 e a centralidade das Ciências Humanas e Sociais na construção e consolidação de todas as ciências e da sociedade brasileira.
O ensino e a formação em Ciências Humanas e Sociais são pilares do pensamento e das ações humanas comprometidas com as demandas sociais, com a qualidade de vida e com a inovação tecnológica.
As falácias que sustentam as teses divulgadas pelo Presidente e por seu Ministro da Educação comprometem a formação e a consolidação de uma sociedade inclusiva e ética, desrespeitando a história das políticas públicas e da educação superior, bem como o papel social das Universidades em suas diferentes áreas do conhecimento.
Esse tipo de ofensiva às Ciências Humanas e Sociais, bem como às Instituições de Ensino, pretende fomentar um projeto político de direito e uma formação educacional crítica e democrática.
A ANPEPP repudia veementemente qualquer tentativa de ataque à autonomia das universidades na formação do pensamento para a produção científica.
Fonte: ANPEPP
Postado em: 02/05/2019
We, the undersigned academics around the world, would like to express our alarm and concern about President Bolsonaro’s recent claims that he is planning to defund Philosophy and Sociology (and possibly other areas in the Humanities and social sciences). Brazilian public universities have produced internationally recognized major research in both of these areas. Philosophy and Sociology are fundamental disciplines of any modern university, and, given the interdisciplinary nature of the university, defunding them will affect not only research in these specific areas, but also the reputation, and the quality of research and teaching, of Brazilian universities across all areas. In fact, it is ironic that Philosophy is singled out in this respect, as philosophers in Brazil were among the pioneers of paraconsistent logic, a research program that has had impact in such diverse areas as robotics and expert systems for medical diagnosis.
President Bolsonaro implies in his remarks that public funding should flow exclusively to professional schools. These are certainly important programs. However, a democratic society depends not only on its commercial productive output, but also on its social institutions, its understanding of their foundations and governing principles, as well as its understanding of how these policies and institutions affect its population. Research in social sciences and humanities, and especially Philosophy and Sociology, is vital to such an understanding. The contribution of academics to public debates is also of crucial importance to a well functioning democracy.
Students taking courses in these areas learn to think critically about their conditions, and the broader condition of the society and the world around them. But also the wider public and Brazilian society benefit from the intellectual expertise from philosophers and sociologists.
Thus an attack on Philosophy and Sociology, as well as the humanities and social sciences more generally, is an attack on the very fabric of a democratic society. We call on the Bolsonaro government to reconsider such proposals, and we call on all citizens of Brazil to join us in preserving public support of the social sciences and humanities in Brazil.
Postado em: 02/05/2019
On April 25th, Brazilian President Jair Bolsonaro, along with his Minister of Education, Abraham Weintraub, declared the government’s intent to “decentralize investments in philosophy and sociology” within public universities, and to shift financial support to “areas that give immediate returns to taxpayers, such as veterinary science, engineering, and medicine.”
As professors, lecturers, graduate students, post-doctoral fellows, and other scholars in sociology and related disciplines at colleges and universities in the United States and worldwide, we write to declare our unwavering support for continued funding for sociology programs at Brazilian universities. We oppose President Bolsonaro’s attempt to disinvest in sociology, or any other program in the humanities or social sciences.
As historical and contemporary sociologists, we understand that the decades-long marketization of higher education has convinced many politicians - in Brazil, in the United States, and globally - that a university education is valuable only insofar as it is immediately profitable. We reject this premise.
The purpose of higher education is not to produce “immediate returns” on investments. The purpose of higher education must always be to produce an educated, enriched society that benefits from the collective endeavor to create human knowledge. Higher education is a purpose in and of itself.
An education in the full range of the arts and sciences is the cornerstone of a liberal arts education. This is as true in Brazil as it is in the United States as it is in any country in the world.
Brazilian sociology departments produce socially engaged and critical thinkers, both in Brazil and worldwide. Brazilian sociologists contribute to the global production of sociological knowledge. They are our colleagues within the discipline and within our shared departments and institutions. When sociologists from abroad conduct research or other academic work in Brazil, we are welcomed by Brazilian sociologists and by their departments. Many of our own students receive world-class training in sociology at Brazilian universities.
President Bolsonaro’s intent to defund sociology programs is an affront to the discipline, to the academy, and, most broadly, to the human pursuit of knowledge. This proposal is ill-conceived, and violates principles of academic freedom that ought to be integral to systems of higher education in Brazil, in the United States, and across the globe. We urge the Brazilian government to reconsider its proposition.
Abraham Weintraub, ministro da Educação, diz que corte nas Ciências Humanas objetiva 'respeitar os pagadores de impostos'
A declaração do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre uma possível redução de investimentos em faculdades de Filosofia e Sociologia vem repercutindo e gerando críticas por todo o país. Para o docente do departamento de Filosofia da UFSM, Noeli Dutra Rossato, dizer que as Ciências Humanas não dão retorno imediato à sociedade é uma falácia, ainda mais em se tratando de períodos como o atual, permeado por sintomas de crises diversas, com destaque para a crise moral.
“É simples assim: deixamos de ser humanos ou somos menos humanos que antes. Passamos a roubar. Matar. Agredir. Tentar eliminar os demais. Enriquecer a qualquer custo. E não adianta defender a técnica sem desenvolvimento humano: isso é a barbárie. Os exemplos históricos do século XX são por demais convincentes. Duas guerras mundiais, bombas atômicas, fome, extermínios de etnias, racismo, enfim, tentativa de eliminar o outro que é diferente de mim”, opina Rossato.
Quem também compartilha da crítica às recentes declarações de Bolsonaro é o docente do departamento de Ciências Sociais da UFSM, Everton Picolotto, que lembra o estatuto de conhecimento científico já reservado a tais ciências, “que se ocupam da pesquisa sobre as desigualdades presentes na nossa sociedade, as relações trabalhistas, o campo da cultura, as relações interétnicas, gênero, Estado, poder, etc. O estudo destes temas, muitas vezes, mexe com assuntos espinhosos e que incomodam setores privilegiados e o próprio Estado por revelaram, por exemplo, as razões da riqueza de alguns na miséria de outros. Somos ciências incomodas para estes, mas essencial para evoluímos como sociedade e país”, diz o docente.
Quem lucra?
Ao defender a redução de orçamento para as áreas de Filosofia e Sociologia, o novo ministro da Educação, Abraham Weinbtraub alegou que “a função do governo é respeitar o dinheiro do pagador de imposto”. Já Bolsonaro disse que objetivo seria “focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina”. Contudo, Rossato questiona sobre quem, de fato, lucra com os conhecimentos desenvolvidos dentro das universidades. Para o docente, não são as pessoas adoecidas das periferias, nem os pequenos produtores, por exemplo, mas a indústria farmacêutica [quase sempre estrangeira], o agronegócio [venenos, adubos] e o capital financeiro [bancos]. E esse lucro, explica o professor, é privatizado, embora seja fruto de investimentos públicos.
Postado em: 02/05/2019
Declaração da Associação Latino-americana de Sociologia em defesa das Ciências Sociais e Humanas
A Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS) expressa seu mais enérgico rechaço aos recentes anúncios do Governo brasileiro, de intenções de cancelamento dos investimentos na educação superior nas carreiras humanísticas, nomeadamente, nos cursos de Sociologia e Filosofia.
Tais intenções se manifestam a partir de discursos ameaçadores, que desconhecem a contribuição dessas disciplinas para a formação de cidadãos e a compreensão dos processos humanos, bem como para o próprio desenvolvimento da ciência. É inconcebível que, no marco de tantos problemas sociais e humanos enfrentados pela sociedade, governantes de distintos países recorram ao argumento de utilidade ou pertinencia do conhecimento social e humanístico para negar e limitar seu desenvolvimento.
Entendemos que manifestações dessa natureza se sustentam em uma profunda ignorância do conhecimento científico social e constituem expressões ideológicas que muitas vezes obedecem a interesses de curto prazo. Trata-se de uma ideologia baseada no desinteresse em atender as causas sociais profundas e que não reconhece os aportes das Ciências Sociais na solução e superação de problemas atuais como a violência, a exclusão social, as desigualdades, a pobreza, as migrações e os problemas ambientais e tecnológicos, dentre tantos outros. A comunidade científica e latino-americana não pode permanecer impassível diante desta situação.
Postado em: 27/04/2019
Na condição de representantes da comunidade acadêmica da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), o reitor, Fábio Edir dos Santos Costa, e o vice-reitor, Laércio Alves de Carvalho, bem como toda a equipe que compõe a gestão universitária, reiteram a posição da UEMS a respeito da relevância, e indispensabilidade, dos cursos nas áreas das ciências humanas e sociais.
A UEMS tem uma importante tradição na oferta desses cursos em todas as regiões do Estado. Entre eles, é possível citar, como um dos bons exemplos, a excelência do curso de Ciências Sociais oferecido na unidade universitária de Paranaíba. Em 2018 a graduação uniu-se ao seleto grupo de cursos brasileiros, na área, com nota máxima no Enade. O desempenho desse, e dos demais da Instituição, não se traduz somente no indicador técnico da avaliação, mas principalmente na qualidade dos profissionais que têm sido formados e das ações (de ensino, pesquisa e extensão) desenvolvidas pelos docentes nos âmbitos interno e externo da Universidade.
Defendemos que a autonomia de cátedra é um pressuposto para construção de uma educação superior de qualidade e, consequentemente, de uma sociedade melhor e mais igualitária. E é nesse sentido que as humanidades assumem um papel fundamental no processo de formação, não somente nos cursos de suas áreas específicas, mas em todos os cursos que tenham como objetivo ampliarem o impacto social de suas atuações.
Fonte: Imprensa UEMS
Postado em: 26/04/2019
As associações aqui reunidas vêm a público manifestar sua indignação e extrema preocupação face às recentes declarações da Presidência da República e do Ministério da Educação relativas ao ensino da filosofia e das ciências sociais no Brasil.
Trata-se de demonstração do mais completo desconhecimento sobre a ciência e sobre a produção do conhecimento cientifico. É tão equivocado e enganoso avaliar as diferentes disciplinas e a reflexão filosófica pela sua aplicabilidade imediata quanto desconhecer a importância histórica das ciências sociais e das ciências sociais aplicadas no desenvolvimento de diferentes tecnologias voltadas à resolução de graves problemas da sociedade.
A reflexão das ciências humanas e sociais, incluída a filosofia, tem sido tão crucial para a formulação e avaliação de políticas públicas como para o desenvolvimento crítico das demais ciências. É inaceitável, portanto, que essas disciplinas sejam consideradas um “luxo”, passível de corte em tempos de crise econômica como a que vivemos atualmente no país ou de “rebaixamento” por motivação político-ideológica.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA
(Maria Filomena Gregori, Unicamp)
Sociedade Brasileira de Sociologia – SBS
(Carlos Benedito Martins, UnB)
Associação Brasileira de Ciência Política – ABCP
(Flávia Biroli, UnB)
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ANPOCS
(Renato Sergio de Lima, FGV)
Clique aqui para ler a nota em PDF.
Postado em: 17/04/2019
A ANPOCS parabeniza o American Museum of Natural History (AMNH), sediado em Nova Yorque, por sua decisão de suspender o contrato de locação de suas dependências para a cerimônia da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos de homenagem ao presidente Bolsonaro.
A ANPOCS se une a associações científicas norte-americanas, como a AAA - American Anthropological Association - e a inúmeras outras instituições acadêmicas na denúncia da política estatal brasileira de abertura da Amazônia a empresas mineradoras, o que oferece grande risco ao meio ambiente e às populações indígenas. A decisão do AMHN mostra a força das redes globais na resistência às politicas de desrepeito aos Direitos Humanos no Brasil.
Postado em: 05/04/2019
A Associação Nacional de História - ANPUH/Brasil registra sua indignação com as manifestações de integrantes do poder público federal quanto à história do Brasil e do mundo contemporâneo, eivadas de negacionismo e revisionismo infundado e desprovidas de qualquer base investigativa.
A titularidade do poder político não reveste seus detentores de infalibilidade e tampouco lhes confere mandato para - mediante opiniões superficiais e sem pertinência à realidade brasileira amplamente pesquisada com elevado grau de acuidade científica - impor suas visões particulares, manipular os instrumentos educacionais do Estado ou deturpar suas finalidades de entidade impessoal, laica e inclusiva.
Em particular, no caso do titular do Ministério da Educação, constata a ANPUH/Brasil um descaso com a responsabilidade pública do cargo e um amadorismo incompatível com a missão de supervisionar os processos educacionais do país em ambiente de pluralidade, democracia e liberdade. Isso é o que está prescrito nos arts. 5o., 205 e 206 da Constituição Federal, e o art. 3o. da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9393/96), dentre tantos outros dispositivos do ordenamento jurídico do nosso estado democrático de direito, consoantes com nossa cultura social e política plural. Assim esperamos dos governantes que se comportem com responsabilidade pública e com moralidade pessoal, algo que um país como o Brasil tem o direito de exigir.
Postado em: 29/03/2019
É incompatível com o Estado Democrático de Direito festejar um golpe de Estado e um regime que adotou políticas de violações sistemáticas aos direitos humanos e cometeu crimes internacionais.
A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) em conjunto com Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), a Associação Nacional de História (ANPUH) e a Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) expressam o irrestrito apoio à Nota Pública da PFDC, que repudia de forma veemente o ato da Presidência da República que recomendou ao Ministério da Defesa que o aniversário de 55 anos do golpe de Estado de 1964 seja “comemorado”.
A nota ressalta que o golpe de Estado de 1964 constituiu um rompimento violento e antidemocrático da ordem constitucional vigente naquele período. Assinala também que este rompimento deu origem a um regime de restrição a direitos fundamentais e instaurou uma repressão violenta e sistemática à dissidência política, a movimentos sociais e a diversos segmentos, tais como povos indígenas e camponeses.
Postado em: 25/02/2019
As associações nacionais que reúnem pesquisadoras/es, docentes, estudantes e profissionais das áreas de Ciências Sociais e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública manifestam sua preocupação com a proposta do ministro Paulo Guedes, em declarações feitas no dia 22 de fevereiro de 2019, de redução das informações coletadas pelo Censo Demográfico 2020, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Censo é fundamental para que seja possível conhecer a realidade do país e promover políticas públicas eficazes. A exclusão de informações do Censo Demográfico 2020 comprometeria as séries históricas de dados que permitem analisar, com base em evidências, mudanças no perfil populacional e padrões de desenvolvimento nacional e regionais.
Trata-se de um país de proporções continentais, diverso e que apresenta uma série de desafios para que os recursos públicos possam ser geridos com eficácia e dirigidos para as necessidades reais da população.
Ao longo dos anos, o IBGE tem demonstrado seriedade e competência na produção de bases de dados e, especificamente, do Censo. Na área de Ciências Sociais, acompanhamos esse trabalho e nos fundamentamos nos dados apresentados para análises e para a apresentação de alternativas diante dos desafios que esses dados evidenciam.
Restringir o censo vai contra o interesse público, na medida em que, com menos informações, a formulação de políticas fica comprometida, assim como a possibilidade de construção de um país mais justo. Não há desenvolvimento e justiça social sem conhecimento. Não há políticas públicas eficazes sem pesquisa que informe seus formuladores. A quem, afinal, interessa o desconhecimento?
Como resultado dos três dias de debates do XXIII Encontro anual da ANIPES, na cidade de São Luís do Maranhão, presidentes e gestores dos Institutos de Planejamento, Pesquisa e Estatística Brasileiros, tendo em vista as discussões e deliberações do Encontro, elaboraram a “Carta de São Luís”.
A carta tem como objetivo chamar atenção para os grandes desafios e oportunidades que se colocam para as instituições de pesquisa, planejamento e estatística e para o sistema de planejamento brasileiro.
O documento defende três propostas principais: o apoio ao sistema estatístico e de planejamento do país em sua agenda de utilização das modernas tecnologias e meios de telecomunicação a serviços do melhor conhecimento do território brasileiro; a Defesa da integralidade e tempestividade dos recursos para o Censo Demográfico 2020; e a reabertura imediata dos Institutos de Pesquisa da Paraíba (IDEME) e do Rio Grande do Sul (FEE), com retomada dos projetos e pesquisas interrompidos precocemente.
No dia 1º de novembro de 2018 uma aluna do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, que andava de mãos dadas com sua namorada, foi alvo de espancamento por sete pessoas. Este não foi um fato isolado de violência direcionada às minorias dentro do Campus Darcy Ribeiro. O Departamento de Antropologia repudia qualquer ato de violência e, além de tomar as medidas cabíveis, está empenhado em lutar e combater essas ações dentro e fora do ambiente universitário. Nos solidarizamos com as estudantes e incentivamos que sejam feitas denúncias de atos de intolerância e violência. Reiteramos que a universidade é um espaço aberto e de liberdade e deve seguir sendo. Nosso esforço tem que ser por desfazer a violência no seu âmago.
A Associação Brasileira de Antropologia, associação científica criada em 1955, sem caráter político partidário ou religioso, que congrega mais de 2000 antropólogos e antropólogas que se dedicam à pesquisa, ao ensino e às atividades profissionais, vem manifestar sua profunda preocupação quanto aos destinos da democracia no país, e quanto à manutenção dos direitos fundamentais das pessoas inscritos no artigo 5 da Constituição Brasileira de 1988.
A antropologia tem como vocação e profissão dedicar-se ao estudo científico das culturas e das sociedades, e assim de toda diversidade humana em seus contextos e ambientes. O valor mais precioso de seu fazer é o reconhecimento da diversidade sócio cultural e da dignidade da pessoa humana, independente de raça, cultura, sociedade, classe, gênero , etnia, cosmologia ou religião.
Assim, é com profundo pesar que se faz ouvir neste momento político de eleições que definem os destinos do pais, narrativas e proposições de incitação à violência, ao ódio e à discriminação racial e de gênero, de caráter ao mesmo tempo homofóbico, misógino e racista e que anuncia o fim da liberdade de expressão.
Defende-se a tortura, a licença de matar, as armas na mão. É apresentado como aceitável o extermínio de toda a Rocinha, caso os bandidos não se entreguem. É apresentado como aceitável expulsar opositores políticos do solo brasileiro pela ameaça de fuzilamento. Tira-se o valor da dignidade humana de liderança negra quilombola, ao atribuir-lhe peso em arrobas, e acusá-lo incapaz até de procriar. Enuncia-se que indígenas e quilombolas, não terão suas terras e territórios demarcados, sem sequer se fazer referência a estudos e relatórios que avaliem sua demanda.
A palavra de quem prega fuzilamento de adversários políticos, extermínio de criminosos e cidadania desigual é uma ameaça à democracia e configura-se como invocação de um autoritarismo, ou pior, um fascismo. A Associação Brasileira de Antropologia não pode se calar diante da ameaça à democracia.
A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) é uma entidade que congrega mais de uma centena de programas de pós-graduação, institutos e fundações de pesquisa envolvidos com a produção e divulgação científicas e formação de quadros nas áreas afins aos campos da antropologia, sociologia, ciência política e relações internacionais. Inicia suas atividades em 1977 como resultado da cooperação de cientistas sociais de vários centros importantes do país para fortalecer o debate sistemático e rigoroso sobre as grandes questões nacionais, tais como o Estado de direito, as instituições democráticas, as liberdades, a promoção dos direitos à cidadania, o desenvolvimento e o bem-estar da população.
Ao longo dessas décadas, a ANPOCS nunca assumiu posição partidária ou expressou preferência por correntes ideológicas em disputa no cenário eleitoral, este que veio a se institucionalizar também como fruto dos esforços da Associação pelo restabelecimento da democracia no país. A ANPOCS não defende correntes partidárias. Defende, sim, premissas e valores nos quais baseia sua existência e seu compromisso institucional. Premissas de convivência pluralista e respeito à diversidade de pensamento, metodologias, objetos de estudo e posicionamentos políticos. Valores ligados e fundamentais ao conhecimento, à reflexão crítica e ao investimento público e estatal na ciência e tecnologia, no ensino pós-graduado e na educação pública, laica e republicana.
Ao longo do atual debate eleitoral, lamentavelmente, tais premissas e valores vêm sofrendo severo questionamento. Sendo assim, a ANPOCS não pode deixar de manifestar sua preocupação com os destinos do processo democrático brasileiro no horizonte que se aproxima e lutará para que aquelas premissas e valores que subjazem sua trajetória permaneçam como parâmetros da agenda política, econômica e social que se queira construir.
Diretoria Executiva da ANPOCS
Em editorial publicado nesta segunda-feira (17/9/18), o jornal O Globo ofende a comunidade científica mundial e, em particular, a brasileira, ao chamar a UFRJ e a Uerj de instituições falidas. A vulgaridade e a violência contra as instituições demonstram o tempo de irracionalismo e violência vivido no Brasil de hoje. Desconsiderando a ética e a verdade, O Globo tem contribuído com a propagação de fake news em prol de seus interesses particularistas.
São muitos os exemplos de manipulação que poderíamos citar, mas voltemos à edição do dia 6/9. Enquanto afirmava em editorial que a Universidade havia recusado, há trinta anos, uma oferta de US$ 80 milhões do Banco Mundial para supostos projetos no Museu Nacional, o jornal trazia, na página 16, o desmentido oficial do próprio Banco, informando que a proposta não prosperou em virtude de circunstâncias externas à UFRJ.
Não existe falência da UFRJ e, seguramente, da Uerj. No mês passado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro foi apontada pelo ranking de Xangai como a melhor universidade federal do Brasil. Por dois anos consecutivos, a UFRJ aparece no ranking universitário do jornal Folha de São Paulo como a melhor do país. É responsável por cerca de 10% dos programas de pós-graduação com qualidade internacional, conceitos 6 e 7 da Capes e seus cursos de graduação estão entre os melhores do Brasil, conforme resultados do Enade e do MEC.
No ano em que se comemoram os 200 anos da fundação do Museu Nacional e os 50 anos da criação do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/MN/UFRJ) desse mesmo Museu desencadeia-se o devastador incêndio do Palácio de São Cristóvão, que projeta a instituição em uma nova e inesperada fase de sua existência.
O Museu Nacional estava plenamente ciente dos riscos por que passava seu patrimônio, tendo que fazer conviver num prédio histórico oitocentista uma vida científica multiforme e pujante, com coleções científicas, acervo histórico, laboratórios, bibliotecas e salas de aula. Por esse motivo lutávamos todos, há décadas, pela obtenção de espaços de expansão externos, que permitissem o deslocamento de parte dessas atividades e as consequentes e imperiosas reformas estruturais necessárias no Palácio. Buscou-se inicialmente a obtenção de outros prédios, mais ou menos próximos da sede do Museu, alguns pertencentes inclusive à União. Esgotadas sem sucesso essas iniciativas, passou-se a investir na construção de um conjunto de anexos localizados no Horto Botânico do Museu, na borda sul da Quinta da Boa Vista. Lá se conseguiu construir o prédio que abriga a Biblioteca central e, sucessivamente, ao longo dos anos seguintes, o prédio do Departamento de Vertebrados e do Departamento de Botânica. Ao mesmo tempo, dava-se continuidade a intervenções emergenciais no Palácio, como a reforma dos telhados, quase completamente realizada há poucos anos.
Comitê de Assessoramento do CNPq – COSAE
CS/Antropologia, Arqueologia, Ciência Política, Direito, Relações Internacionais e Sociologia.
Como membros dos Comitês de Assessoramento do CNPq, na área das Ciências Sociais, queremos expressar nossa solidariedade a nossos colegas e a todos os amigos da ciência, da educação e da cultura no nosso país em relação à catástrofe do incêndio do Museu Nacional da UFRJ. Queremos ressaltar, no entanto, que catástrofes como esta são a expressão maior de um dia a dia de perdas e de descasos profundos que a ciência, a cultura e a educação enfrentam no Brasil. Como membros de CAs do CNPq, estamos vivendo uma diminuição constante dos auxílios à pesquisa, de bolsas as mais diversas, do apoio a atividades científicas como congressos, colóquios e eventos de intercâmbios científicos, tanto no plano nacional quanto internacional. No dia seguinte ao incêndio do Museu Nacional estávamos nós, dos CAs do CNPq, tentando "fechar" planilhas que só poderiam ser aceitas com o corte de mais de 90% das demandas recebidas. Reduzidos a essas atividades desesperadoras para "salvar" migalhas, juntamos nossas vozes à de todos que, indignados e de luto pela perda do Museu Nacional, protestam contra esse estado de coisas que tanto prejudica nossos pesquisadores e nosso país.
Adrian Gurza Lavalle - Ciência Política
Andres Zarankin - Arqueologia
Artur Stamford da Silva - Direito
Cynthia Andersen Sarti – Antropologia
Jacob Carlos Lima – Sociologia
Jane Felipe Beltrão - Antropologia
Patricia Birman – Antropologia
Rachel Meneghello – Ciência Política
Vera Lucia Michalany Chaia - Ciência Política e Relações Internacionais
O Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), reunido no dia 28 de agosto de 2018, vem a público manifestar o seu posicionamento diante dos trágicos acontecimentos do último ano e da insegurança jurídica que assola o país e culminam, agora, com a criminalização do próprio pranto de manifestação dos seus pares, sente-se no dever de romper o silêncio respeitoso e digno em que aguarda a verdade sobre os fatos que vitimaram o seu Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo.
Mas frisa que se manifesta com a serenidade que deve pautar um Colegiado de educadores e cientistas, lucidamente postados acima das disputas e questões de um país ferido pela desigualdade e a intolerância; com a postura de quem se dedica a ensino, pesquisa e extensão com vistas no resgate da Nação pela inclusão social e a transformação de todas as pessoas cidadãs brasileiras numa Ética de respeito, fraternidade e autodeterminação, juntamente com as suas autoridades e as instituições comprometidas.
A Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), a ABA (Associação Brasileira de Antropologia), a ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política) e a ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) aliam-se ao conjunto da comunidade acadêmica e científica brasileira ao apoiar a carta enviada pelo Conselho Superior da Capes ao Sr. Ministro da Educação que expressa a sua grande preocupação com as consequências que os cortes propostos ao orçamento da CAPES podem trazer para a pesquisa e a formação de docentes no país. A política de pós-graduação brasileira é muito bem-sucedida e tem usufruído de relativa estabilidade ao longo do tempo. Trata-se de um sistema de pós-graduação consolidado pelo qual são formados pesquisadores que, por sua vez, desenvolvem as suas pesquisas nas mais variadas áreas de conhecimento e promovem o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Também serão afetados programas na educação superior que trazem impactos relevantes para a educação básica.
Diante desse quadro, a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) enfatiza a necessidade de que o Sr. Ministro da Educação trabalhe junto aos ministros da área econômica para viabilizar a integridade orçamentária do MEC consagrada no artigo 22 da Lei de Diretrizes Orçamentárias 2019 (LDO), ao mesmo tempo em que conclama a comunidade acadêmico-científica a se mobilizar em defesa da CAPES e dos demais órgãos do Sistema Nacional de C&T, como o CNPq.
3 de agosto de 2018
As associações científicas abaixo assinadas, por intermédio de suas respectivas diretorias, manifestam sua profunda preocupação e enfatizam a gravidade das consequências que, se mantidos, os cortes orçamentários previstos para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — CAPES em 2019 terão para a pesquisa e a educação no Brasil, em todos os seus níveis, conforme destacado por correspondência de seu Conselho Superior, assinada pelo seu presidente, Abílio A. Baeta Neves, e encaminhada ao Sr. Rossieli Soares da Silva, Ministro de Estado da Educação.
Dentre aquelas consequências, destacamos:
• impacto severamente negativo para a educação básica, com a interrupção, já a partir de agosto de 2019, de programas de formação de docentes, com destaque para a suspensão do funcionamento do Programa de Mestrado Profissional para Qualificação de Professores da Rede Pública de Educação Básica (ProEB) e do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), com impacto direto em 245.000 alunas, alunos, professoras e professores, bem como sobre outras e outros bolsistas necessários para a viabilização dos referidos programas;
• ainda sobre a educação básica, ficariam sem pagamento, também a partir de agosto de 2019, 105.000 bolsistas de outros programas de formação e incentivo à docência na educação básica;
• quanto à educação superior, e particularmente à pesquisa e à pós-graduação, seriam interrompidos, a partir de agosto de 2019, os pagamentos a mais de 93.000 discentes e pesquisadores, com severo impacto sobre a pós-graduação e à formação de quadros, inclusive para programas considerados estratégicos por diversos órgãos governamentais.
Ao Excelentíssimo Senhor
Rossiele Soares da Silva
Ministro de Estado da Educação
Brasília
Cc. Prof. Abílio Baeta Neves
Presidente da CAPES
Brasília
Prezado Senhor Ministro,
As instituições abaixo nomeadas, participantes do Fórum de Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas, somam-se ao conjunto da comunidade acadêmica e científica brasileira para expressarem a sua mais forte preocupação com as consequências que os cortes propostos ao orçamento da CAPES podem trazer para a pesquisa e a formação de docentes no país. Como sabemos, a CAPES já vem restringindo vários de seus programas em razão dos cortes já realizados em seu orçamento. Um novo corte, como o agora proposto para o orçamento de 2019, atingirá centenas de milhares de professores(as) e pesquisadores(as) e colocará em risco a própria existência da Pós Graduação, a mais importante e capilar de nossas estruturas de pesquisa.
Reiteramos, pois, a necessidade de que o Sr. Ministro da Educação trabalhe junto aos Ministros da área econômica para que sejam revistos os cortes propostos e conclamamos toda a comunidade acadêmico-científica a se mobilizar em defesa da CAPES e dos demais órgãos do Sistema Nacional de C&T, como o CNPq e as FAPs, patrimônios do povo brasileiro.
Brasil, 03 de agosto de 2018.
A comunidade acadêmica e organizações da sociedade civil repudiam a perseguição sofrida por defensores de grupos LGBTI+s e manifestam seu apoio à PROFESSORA MARIA CLARA DIAS, vítima de manifestações inverídicas e assustadoramente ofensivas.
Os ataques são direcionados à pesquisa que lidera sobre o assassinato e suicídio de mulheres lésbicas no Brasil e iniciaram após o lançamento do Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil, entre os anos de 2014-2017. Desde então, a professora tem sido alvo de perseguições sistemáticas, que envolvem até levianas acusações de fraude e insinuações mentirosas sobre o mau uso do dinheiro público. Há utilização indevida de sua imagem e distorção de suas falas, com claro objetivo de intimidação, para coibir a defesa dos direitos básicos de grupos heterodiscordantes.
A professora em questão, reconhecidamente competente e dedicada a causas relativas aos direitos humanos, aos direitos dos animais e à justiça, deve ter o direito a sua honra resguardado. Não aceitaremos a produção do medo, do ódio e da violência, por isso reafirmamos os valores democráticos de justiça social, tolerância e respeito mútuo.
A Anpocs apoia o pleito do Conselho Superior da Capes e considera gravíssimos o corte do orçamento da Capes e suas respectivas consequências para os programas de pós-graduação, os bolsistas e os programas de cooperação internacional.
Quatro importantes entidades nacionais emitem nota pública em desfavor da implementação da Lei da Reforma do Ensino Médio e retirada da atual proposta da BNCC. Essas entidades somam-se à diversas outras contrárias à reforma do Ensino Médio proposta pelo governo de Temer. Segue a nota:
O Comitê de Deficiência e Acessibilidade da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e o O Comitê de Deficiência e Acessibilidade da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), vem publicamente denunciar e repudiar as agressões e ataques covardes, fascistas e absurdos que estão sendo produzidos contra a antropóloga e docente da UNB, e membro do Comitê da ABA, a Profª Dra. Debora Diniz, por meio de mídias e redes sociais diversas. Debora Diniz possui extraordinária e renomada carreira, é professora e pesquisadora nos campos da Bioética, Direitos Humanos e Direitos das Mulheres e das Pessoas com Deficiência, além de cineasta e escritora.
A pesquisadora do ANIS, que por muitos anos se dedica a docência e pesquisa que envolve a promoção da Ética e da Bioética, relacionando com a temática dos direitos humanos, do feminismo e da justiça entre os gêneros; a produção de conhecimento para democratizar pesquisas e ações em Bioética, e que assegurem os direitos fundamentais das mulheres, da Bioética feminista e da Justiça entre os gêneros, foi violentada em seu direito civil e humano, por grupos e atores sociais organizados por movimentos fascistas.
É inaceitável que indivíduos e grupos orquestrem agressões em função da manifestação de ideias e a militância no que se refere à defesa dos Direitos Humanos. Portanto, manifestamos nossa incondicional solidariedade à professora Debora Diniz e cobramos das autoridades policiais e judiciais a identificação e punição dos covardes agressores que se escondem com o vergonhoso véu do anonimato.
Exigimos a punição dessas pessoas e a proteção de Debora Diniz, que não pode vir a ser mais uma vítima do ódio que tem contaminado o país, cujo governo atual é incapaz de manifestar qualquer sinal de sensatez ou autoridade decente. Nosso país não pode aceitar que a defesa dos direitos humanos seja um fator de risco para seus cidadãos.
O Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação da área de Antropologia e Arqueologia vem a público para manifestar sua inconformidade com a grave decisão do governo federal de corte de recursos para os programas de bolsas de permanência para alunos de graduação indígenas e quilombolas. Fruto de longos processos de mobilização e de debate envolvendo movimentos sociais, organizações da sociedade civil, acadêmicos e gestores, as bolsas garantidas por esses programas vêm sendo fundamentais para incrementar muito significativamente o acesso de jovens de comunidades indígenas e quilombolas ao ensino superior, com importantes impactos positivos para a formação desses estudantes individualmente e para suas comunidades de origem. De nossa posição nos diversos cursos de pós-graduação, observamos que é em larga medida a partir de estudantes beneficiários desses programas e da implementação, na pós-graduação, de políticas específicas de acesso por ação afirmativa que os programas em nossa área vêm conseguindo viabilizar o aprofundamento da formação acadêmica de intelectuais indígenas e quilombolas em um importante passo para o reconhecimento desses intelectuais e da diversidade na produção do conhecimento no país. Sem dúvida, este tem sido o maior benefício para as universidades e o conhecimento nelas produzidos e para a sociedade. Cortar esse processo em sua raiz nos parece uma decisão lamentável, e que representa mais um retrocesso em relação aos direitos e perspectivas sociais duramente obtidos através de muitas lutas.
A diretoria executiva da Anpocs vem manifestar sua profunda indignação diante dos lamentáveis incidentes ocorridos no dia 27 de abril no Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (IFCH) da Universidade Federal Fluminense. Entendemos que a Universidade deve ser espaço plural e democrático, aberto às diversas posições e ideologias, estimulando, assim, o diálogo e o respeito em relação a ideias e pontos de vista, garantia fundamental da manutenção de uma ordem democrática. Repudiamos a violência e a intimidação cometidas contra professores, alunos e técnicos do ICHF/UFF em seu espaço de trabalho com o propósito explícito de gerar instabilidade e confronto no exercício institucional dos departamentos e programas de pós-graduação das diversas áreas das Ciências Sociais e Humanas. Os incidentes ocorridos atentam contra o ethos acadêmico de respeito às diferenças ideológicas, culturais e de estilo de vida, bem como contra o respeito ao princípio democrático de convivência e tolerância social.
A ANPOCS vem a publico manifestar sua solidariedade à comunidade acadêmica da UFMG, e manifesta igualmente sua preocupação com o modo pelo qual as universidades brasileiras e seus gestores estão sendo tratados no âmbito de ações oficiais de investigação. A tragédia da UFSC e do reitor Professor Cancellier não foi suficiente para o aperfeiçoamento da ação das nossas instituições de controle? Causa espanto que justamente um projeto de pesquisa e memória sobre a anistia e as atrocidades cometidas pela ditadura seja, neste momento, alvo de uma ação como a que se assistiu nesta manhã do dia 6 de dezembro em Minas Gerais. Ataques desse tipo comprometem a nossa democracia e desestabilizam a universidade pública no país, espaço de produção de conhecimento científico, reflexão e pluralidade de pensamento.
SBPC manifesta veemente repúdio em relação aos recentes atos de arbitrariedade cometidos contra a realização de atividades científicas no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, no dia 29 de novembro.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) vem a público manifestar seu veemente repúdio em relação aos recentes atos de arbitrariedade cometidos contra a realização de atividades científicas que estavam ocorrendo no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. A UFPA é uma das instituições mais importantes da Amazônia, e com reconhecido valor acadêmico, formando profissionais e pesquisadores nas mais diversas áreas do conhecimento.
No dia 29 de novembro de 2017, um grupo de aproximadamente 40 pessoas impediu de forma violenta a realização de atividade acadêmica no Auditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), quando ali se realizava o Seminário “Veias Abertas da Volta Grande do Xingu: Análise dos Impactos da Mineração Belo Sun sobre a Região Afetada por Belo Monte”. Essa invasão foi capitaneada pelo Sr. Dirceu Biancardi, prefeito do município José Porfirio (PA), que veio acompanhado de uma vereadora e de funcionários da Prefeitura, encontrando-se ainda, entre eles, o deputado estadual Fernando Coimbra e seus assessores. Este grupo de pessoas tomou conta do recinto acadêmico com o objetivo de fazer pressão e defender a implantação do Projeto da Mineração Belo Sun, na Volta Grande do Xingu, empreendimento ainda em debate na sociedade.
A invasão foi seguida de atos intimidatórios e do fechamento da porta do auditório, o que impediu a entrada e saída dos participantes do seminário, caracterizando cárcere privado, impedimento de direito de ir e vir, bem como prejuízo às atividades de divulgação de estudos e análises sobre impactos socioambientais na região. É importante ressaltar que os atos praticados ferem a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento e o saber”, que é garantida pelo Artigo 206 da Constituição Federal de 1988.
A SBPC solidariza-se com a coordenadora do Seminário, Profa. Dra. Rosa Acevedo Marín, Titular da UFPA, ex-membro do Conselho de Representantes da entidade, e com os demais pesquisadores, docentes e discentes, representantes de movimentos sociais e autoridades do Ministério Público Federal (MPF), que participavam do seminário. Fazemos coro com a Associação Brasileira de Antropologia e com a Universidade Federal do Pará, que fizeram manifestações similares de protesto em relação a esse atentado contra a autonomia universitária. Confiamos e aguardamos que esses fatos sejam objeto de investigação rigorosa e que ocorra a responsabilização legal dos autores da ação agressiva.
A SBPC ressalta seu propósito de defender, como sempre o fez, a liberdade de pesquisa científica e de sua comunicação pública, bem como o respeito ao estado democrático de direito em nosso país.
Ildeu de Castro Moreira
Presidente da SBPC
A filósofa Judith Butler é doutora em Filosofia pela Universidade de Yale, professora na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde leciona no Departamento de Literatura Comparada e no Programa de Teoria Crítica, é autora de 15 livros, dos quais seis traduzidos no Brasil por diferentes editoras. Butler é uma das convidadas do colóquio “Os fins da democracia - Estratégias Populistas, Ceticismo sobre a Democracia e a Busca por Soberania Popular”, promoção conjunta entre Berkeley e a USP, no qual estão previstas as participações de outros tantos professores oriundos de diferentes universidades, como Humboldt Universität, Boğaziçi University, Université de Paris VII, Universidade de Buenos Aires etc.
São pesquisadores e pesquisadoras norte-americanos, latino-americanos e europeus que, como nós, professores brasileiros e brasileiras, desenvolvem um trabalho intelectual cuja premissa é a liberdade de pensamento, a possibilidade de crítica, e a capacidade de colocar em debate questões relevantes para o conjunto da sociedade. Essa liberdade, no entanto, está ameaça por grupos que pretendem impedir a vinda de Butler ao Brasil, a realização do seminário e o livre diálogo de ideias.
Nós, da ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), que agrega 111 programas de pós-graduação de Antropologia, Ciência Política, Ciências Sociais e Sociologia no país, viemos a público manifestar nosso apoio integral à vinda da professora Judith Butler ao Brasil e o exercício de sua liberdade de expor seus argumentos, proposições e discussões que não acreditamos poder ser cerceadas. Uma mordaça sobre sua fala é uma ameaça para todos e todas nós, cuja vida acadêmica e intelectual não pode prescindir desta liberdade.
ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais CNPJ nº 29.978.236/0001-89 |
||
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 - 1º andar |
![]() |
+55 (11) 30914664 / 30915043 / 30914728 anpocs@anpocs.org.br |